sexta-feira, março 30, 2007

O Gato








O animal: irracional, ao menos ao julgar positivo, onde o animal seria a negação da razão em relação ao referente: Homem. Claro que o gato foge as categorias de macho, ou ao menos, do macho “dominante”. O gato, noturno, de identificação lunar, maternal, independente; seu simbolismo seria usado por séculos em diferentes metáforas, desde as mais reacionários (geralmente sacaniando-o) até as revolucionários (em algumas ocasiões louvando-o). Nise da Silveira em “O mundo das imagens” diz que os egípcios, p. ex., veneravam três deusas leoas – Sekhmet, pekhet e Tefnet -, todas a mesma divindade.
“Sekhmet, a poderosa, é a deusa das batalhas, que lança fogo pela enorme goela. Pekhet desencadeia torrentes devastadoras nos desertos do leste, onde habita. Tefnet, sujeita a grandes cóleras, emite fogo pelos olhos e pela boca. Mas nem sempre essas deusas se apresentam sob aspecto tão terrificante. Elas podem metamorfosear-se em gata, tornando-se assim dóceis e amáveis. Neste caso, seu nome é Bastet, a benévola”.

Por que falo de gatos, ou de felinos? Estranho bicho. Lembro-me primeiro do blog Kato Nigra, especialmente o post de 07 de junho de 2006 (http://katonigra.blogspot.com/2006_06_01_archive.html) donde JH trata do simbolismo desse animal: “é característica das contraculturas a contra-utilização dos signos da cultura oficial. se o gato preto é agouro e má sorte para a simbologia ocidental-cristã, vira vigoroso símbolo de rebeldia nas mãos dos artistas-operários” e ainda busca um exemplo histórico onde o gato “para os sindicalistas da IWW (Industrial Workers of the World), representava a sabotagem, a ação direta dos trabalhadores contra o capital” (ver imagem 1). De fato é Proudhon que pinta “a liberdade sob a forma de uma mulher segurando uma lança com o barrete frígio na ponta e tende a seus pés um gato. Ao contrário, Napoleão detestava gatos” (Silveira, op. cit). Paul Klee que fez a pintura “Gato e Pássaro” (imagem 2) em 1928 diz: "A coisa mais estranha é que eu não posso viver sem um gato. De um cão nunca me tornarei escravo, mas um gato é outra coisa, não é um animal. Um gato encontrado surge-me sempre como dono de um destino". Paul Klee (Pintor Suíço) 1879-1940.

No entanto, como dissemos, o gato foi muito utilizado por culturas reacionárias e, especialmente, por culturas que negavam a própria natureza (em conseqüência a mulher? Esta deusa que traz o homem ao mundo), este sim fundamento essencial para negar o simbolismo do gato. Segundo Jung tanto Perséfone (Koré) como a “Mãe Divina” eram representadas pelo gato. Entre as culturas que negavam o gato podemos encontrar a época medieval onde “Poemas medievais celebram vitórias do rei Arthur sobre gatos-demônios. Nas festivas fogueiras da Páscoa, que da Idade Média se estenderam aos tempos modernos na Europa, gatos eram comumente queimados vivos como substitutos de bruxas e demônios. Ainda no ano de 1648, em Paris, Luís XIV, coroado de rosas, acendeu com as próprias mãos a festiva fogueira onde lançou um saco repleto de gatos vivos”. Perguntemos à história: quem era o verdadeiro “feiticeiro”?

Ao falarmos das projeções desses simbolismos temos que falar que uma projeção não se da sem um receptáculo adequado, por mais que o projetado não se confunda com a projeção. Falo do gato porque o sei independente, belo, e o gosto. Minha tia tem um gato e ela tem um grande apreço por magia e misticismos, para ela essa incrível figura é também uma espécie de defensor da alma, de maus augúrios. De fato Cornélio Agripa em “De Occulta Philosophia” dizia, em estranhas palavras, que os gatos seriam da mesma natureza da menstruação e que com ambos“muitas coisas maravilhosas e milagrosas podem ser trabalhadas pelas feiticeiras”. O vasto simbolismo da feiticeira se alia ao gato, isto é, a mulher e sua ligação com o espiritual. Não é sem nexo que muitos shamans se vestiam de mulher para entrar em contato com o mundo dos espíritos.

2 comentários:

Mr. Durden Poulain disse...

Eu sempre adorei gatos. Rebeldes, independentes, livres, libertários!!

Não tenho um, por que eles não convivem muito bem com os cães... rs

Quanto ao gato da iww, não há imagem mítica mais poderosa... faz todo sentido... essa personificação de um animal que ao contrário do cão, em esforçar-se para agradar o dono, é livre e guiado por seus impulsos e desejos deve incomodar a cultura católico-cristã(não me refiro é claro ao cristianismo primitivo, mas ao cristianismo catolizado) de submissão do instinto sempre a moral, aos costumes, e outras aberrações do tipo...

bom post. miau pra você também... hahaha...

Anônimo disse...

beleza de post, cara!

eu tb sempre me amarrei nesse bicho maneiraço que é o gato. não à toa utilizei o gato preto como inspiração para o blog.

e essas informações que vc buscou são muito legais, toda a questão mítica, mística, feminina e ferina.

engraçado que surgiu um bicho desse na minha vida agora, há umas três semanas... pintou no vizinho, do nada, e resolvemos adotar... na verdade uma gata.

hehehe... kato nigra agora tem uma parceira.

falÔ, camarada!