quinta-feira, junho 30, 2005

Anarquismo, diversidade e o misticismo.

“Todo aquele que bota a mão em mim para me governar é um tirano, um usurpador, e eu o declaro meu inimigo”. Começar o texto com uma frase clássica é uma ótima combustão para novas idéias e, nos tempos modernos realmente é de novas idéias que precisamos. Vivemos em tempos onde a força não mais é a principal arma de dominação dos detentores do poder e dos valores, ela é apenas um instrumento ineficaz perto das modernas armas da dominação. Se não é ela a maior valia da repressão e do controle também não pode ser ela o instrumento de mais valia na luta contra o controle, pelo menos, não enquanto os indivíduos continuarem paralisados como estatuas.
A tempos atrás e ainda hoje, temos órgãos como a igreja institucionalizada que mantém os valores necessários para a manutenção do ciclo nascimento-trabalho-morte em meio a total resignação das massas ao poderio intelectual, bélico, financeiro, moral e midiático dos duques sociais. As massas permanecem objetos de uso dos detentores do poder, ou simplesmente seres estratificados, presos a valores que não criaram, regras alienadas de si.
Por seres estratificados entende-se seres que perderam suas condições de humanidade, de possibilidade, mantendo-se de modo objetivo ou subjetivo, numa relação fechada no mundo, como o mundo fosse o já dado, como as relações sociais fossem as já conhecidas e tudo seguisse uma falsa causalidade linear que nada muda, uma causa sem efeito, um defeito espasmódico.
Hoje a estratificação faz-se por vários meios, como os condicionamentos desenvolvidos por psicólogos como Skinner e Watson, pela moderna psicologia comportamental cognitiva ou mesmo pela necessidade de sublimações do desejo das teorias psicanalíticas. Essas crenças são empregadas nos veículos de aculturação, a nossa valorada cultura, prima da doutrina. A estase de nossos desejos, de nossas possibilidades é inserida em nosso próprio corpo, o lar da mundanidade, do instinto e da valoração do que nos cerca.
O mundo, compreensão que será resultado do discurso do ser, ou seja, da ontologia, é também estratificado com o ser, já que não se pode separá-los como um fosse possível um sem o outro. A compreensão do mundo é sempre resultado de uma relação do mundo com a consciência não podendo haver objetividade, nem realidade per si, só é possível um modo de compreensão da realidade, o “o que é?” deve ser substituído pelo “pra que?”.
É justamente a realidade predicativa, nomeada e já ali que o ser deve superar, pois a totalidade está dentro e fora de si e lhe pertence, não há necessidade de criar o que já se possui, a singularidade. Para chegar a singularidade é necessário que o ser quebre o já conhecido, o já dado, a moral, os costumes, e chegue ao si-mesmo. Este caminho é justamente o caminho do descondicionamento, da quebra da autoridade, do enfrentar os conteúdos assombrosos que se projeta nos outros e reconhecer este como seu (muitas vezes a ganância, o egoísmo..), enfrentar a autoridade que deixa o ser em estado de submissão não permitindo o mesmo esticar o braços e gritar, possibilitar que suas potencialidade sejam manifestas.
Defacelar o já dado é sempre um árduo caminho pois este conta com artefatos de manipulação direta e indireta de extrema eficácia psico-física, como os reforçadores econômicos, sociais (amizades, parceiros sexuais, comodidade), e psíquicos.
Descondicionar-se é cair no abismo, experenciar a angustia e viver novamente, é o ciclo de vida-morte-vida, renascer como a fênix, restaurada, com novos olhos, com um novo corpo, em um novo mundo, este que agora é criado pela sua possibilidade de estar antes da valoração do ente, das coisas, do mundo. Estando onde nada ainda é, existe a possibilidade de tudo vir a ser, ai cria-se a ética – que é pessoal e não coletiva como a moral-, as valorações das relações, o mundo.
Ai já estabelecida a quebra da autoridade individual, psíquica, luta-se com vapor pela sociedade, o indivíduo deixa de ser pessoal e passa a ser coletivo, seu ego não mais existe e paradoxalmente é ai jaz a liberdade, existe uma meta-motivação, um estar além de seu tempo e de seus contemporâneos, visa-se o futuro e compreende-se o presente, mas não de modo a achar que é si mesmo superior aos outros, não se infla, se vive. É o sentimento de numinosidade que leva o indivíduo a seguir seu caminho individual e coletivo, ser único e viver por sua meta. Compreende-se finalmente que todo poder necessário a mudança está em si mesmo, no ser, ele é agora uma estrela, uma totalidade.

quarta-feira, junho 29, 2005

Pessoas, pessoas, poesia e é isso:


Existencia ou existente?

Romper por bel prazer,
a permanencia do marasmo,
com calma e clamor fantastico
piso sobre os valores condicionados,
como se fossem fezes de gado

Não vês a formusura de tal gesto?
Pois com aurora e dejeto
o mundo é formado,
a evolução não é feita no momento dado,
e sim na ousadia do safado
que malogra em seguir o predicado

Impedes ainda o mal dito,
a viver como erudito,
que és, pobre coitado
ja fadado ao enfado,
de ser caracterizado
como algo destinado
a ser o inferno na terra,
os umbrais de seus anais

Que mundo louco malfajesto
Entre-mentes indi-gesto
Para com os que lhe levam a ser
o que virá a ser
é este mundo deformado
Cravo de uma rosa,
anátema de um sonho.

segunda-feira, junho 27, 2005

2 poesias, a 1a escrita a um tempo atrás e a 2a mais recente...

Imunda,
minha existência de vazio,
Calo minha boca e suo frio
Pois de sentimentos sou tomado

A genêse da dor vem do meu peito
E aceito a contra gosto a cruz amarga
Sem escolhas se grassna aguda infamia
Eu, senhor de minha desgraça

Aguentar,
imperativo da existencia
ajoelho-me e peço minha clemencia
mas ja é tarde,
a noite tornou-se onisciencia.








2a- O que procuro

Um canto,
uma nota,
um rota
continua..
harmonica ou não
distoando a natureza
almejando a mudança
tornar-me desarmonico

procuro procurar
até nunca encontrar
o que realmente desejo,
um sonho,
real,
uma viajem
pelo universo,
em um plano
transverso
e virar tudo de cabeça pra baixo

desejo desejar o quanto mais
e não ficar so desejando
conseguir e partir pra outro plano
meta-universal,
infinito,
finito
astral
logo eu, robo da aparencia
me transmutar em inocencia
e vagar no ar,
transbordar de emoção

particulas a esmo,
sentido sem sentido
errante sem pidante
cantarolando sem pudor.

segunda-feira, junho 20, 2005

parte de Jung

Bem, como vocês ja sabiam (ou não) estava eu "escrevendo"(ou puxando de livros) um projeto de pesquisa sobre o tema: O Bem e o Mal em Jung e Nietzsche... estou fazendo-o e tenho que intregar quinta-feira... a primeira parte sobre Jung ta pronta... então eu postarei primeiro ela, depois a do Nietzsche mesmo porque a idéia do projeto não é fazer um amalgama e uma conclusão sobre o tema e sim apresentar o dito-cujo copiando literalmente o escrito por autores ou ditas autoridades sobre o tema (tendo publicado artigos ou livros). Então farei isso e depois tentarei fazer + da minha cabeça essa ligação e concluir usando apenas algumas passagens dos autores e considerando + o que eu sei sobre o tema e ai sim talvez propiciar algo novo... bem, o assunto ficaria maior mas como meu cpu deu problema enquanto eu fazia o trabalho resolvi diminuir (ja q o professor tinha dito que era no minimo 20 paginas e agora são apenas um minimo de 5!) ok... ai vai babys:

O Bem e o Mal em Nietzsche e na Psicologia Junguiana.
Em épocas de extrema violência, destruição e guerra, faz-se necessária uma melhor compreensão moral e filosófica acerca da antinomia do bem e do mal, princípios que, nos parecem a priori indissociáveis, como a necessidade do dia e da noite, da luz e da sombra. Tentaremos apresentar uma visão abrangente do tema, buscando tal na visão do filosofo Frederich Nietzsche (1844-1900), do psicólogo Carl Gustav Jung (1875-1961) e de psicólogos que seguiram a psicologia de Jung.
Muitos psicólogos, filósofos e religiosos ja tentaram compreender o mal, um conceito ou realidade muito difícil de lidar, porém a maioria acabou por ignorar o tema ou considerar o mal apenas como algo de menor valia, que não tem existência em si, apenas como diminuição do bem. Um dos teólogos que mais exerceram influência a visão ocidental e cristã que reduz o mal a uma privação de bem (privatio boni) é santo Augustinho. O conceito de privatio boni e do summum bonum são descritos por Paulo Bonfatti em seu artigo : A questão do mal, uma abordagem psicológica Junguiana:
"..., Summum Bonum, é uma concepção de que Deus é totalmente bom, que é o sumo bem. A Segunda, Privatio Boni, coloca o mal à ausência ou diminuição do bem do Deus totalmente bom."
No mesmo artigo cita Augustinho:
"E santo Augustinho em uma de suas obras contra os maniques e marcionistas, dá a seguinte explicação:
todas as coisas boas são boas porque umas são melhores do que as outras e a qualidade das coisas menos boas faz crescer o valor das boas... Mas aquelas que chamamos más, são falhas da natureza das coisas boas e nunca podem existir absolutamente por si mesmas, fora das coisas boas... Mas até mesmo estas falhas testemunham a bondade da natureza dos seres. Com efeito, o que é mau por alguma falha essencial é verdadeiramente bom por natureza. A falha essencial, com efeito, é algo contra a natureza, porque prejudica a natureza. E não poderia prejudicar, senão por diminuição de sua bondade. Por conseguinte, o mal nada mais é do que a ausência do bem. E por essa razão só se encontra em alguma coisa boa. E é por isso que as coisas boas podem existir sem as coisas más, como, por exemplo, o próprio Deus e todos os seres celestes superiores; não são maus...; se, porém, prejudicam, diminuem o bem e se continuam a prejudicar, é porque encontram ainda algum bem que podem diminuir; e se o consomem todo, a natureza já não tira mais nada que possa ser prejudicado; por isso, quando já não houver uma natureza cujo bem diminua, ao ser prejudicado, também não existirá mal algum para prejudicar."
Segundo Sanford em mal: o lado sombrio da realidade :
"Jung atacou a doutrina da privatio boni, submetendo-a a minuciosa crítica." (171)
E o próprio Jung citado por Sanford diz:
"de acordo com a doutrina da Igreja, o mal é meramente a ‘carência acidental de uma perfeição’" (171)
Segundo Sanford pode-se dizer que as críticas de Jung a privatio boni podem ser resumidas em três pontos:
"1- Pelo fato de a privatio boni encarar o princípio do mal como insubstancial e isolar o mal de qualquer relação divina integral, a figura de Cristo, tal como se apresenta no dogma da Igreja, é necessariamente unilateral. Cristo é somente bondade, amor, justiça e perdão; nele não há nenhum vestígio de obscuridade ou malícia. Como resultado dessa unilateralidade, o lado obscuro aparece na imagem do Anticristo, uma figura que compensa a unilateralidade da imagem de Cristo. Como escreve Jung ‘o símbolo de Cristo falha em relação à totalidade no sentido psicológico moderno, já que não inclui o lado obscuro das coisas, mas o exclui especificamente na forma de um oponente luciferiano’".(171)
Prossegue com o segundo ponto,
"2- Jung se torna um tanto quanto entusiasmado quando ataca a privatio boni porque ele acredita que a separação entre o mal e a divindade causou resultados prejudiciais para a humanidade. A imagem compensada e dividida do Anticristo resultou na autonomia do princípio do mal. O mal não está mais relacionado com o todo, mas é inteiramente livre para agir por si mesmo, o que resulta numa humanidade vitimada pelo mal, com desastrosas conseqüências..... Além do que, diz Jung, o sentimento humano é contra a doutrina da privatio boni, ou qualquer doutrina que de forma semelhante não se detenha sobre o sofrimentos da humanidade, propiciando o enfraquecimento do preparo psicológico para se reconhecer e lidar com o mal." (173-174)
E finalmente a terceira crítica:
"Finalmente Jung encontra uma objeção lógica à doutrina da privatio boni: ele percebe que o homem é compelido a pensar em termos de bem e mal, embora tanto um quanto outro são julgamentos humanos e não sabemos o que eles são em si mesmos. Ele atesta que não podemos pensar no bem sem pensar no mal. Eles são um "par de opostos logicamente equivalentes...Do ponto de vista empírico não podemos dizer mais do que isso.... Teríamos que afirmar que o bem e o mal, sendo metades coexistentes de um julgamento moral, não derivam um do outro, mas estão sempre juntos. O mal, assim como o bem, pertence à categoria dos valores morais". E em outra parte, numa de suas cartas, ele escreve: ‘A nível prático, a doutrina da privatio boni é moralmente perigosa, porque ela subestima e não se dá conta do mal e, ao mesmo tempo, enfraquece o bem, porque o priva de seu oposto necessário: não há branco sem preto, direita sem esquerda, acima sem embaixo, quente sem frio, verdade sem erro, luz sem escuridão, etc. Se o mal é uma ilusão, o bem é igualmente uma ilusão. Essa é a razão pela qual sustento que a privatio boni é ilógica, irracional e até uma bobagem". (174)
Para compreendermos melhor a idéia de Jung sobre o mal, melhor será definirmos alguns conceitos de sua teoria psicológica, como a sombra e o processo de individuação mas antes teremos que falar sobre os arquétipos. Não caberá nesse trabalho analisar minuciosamente conceitos tão vastos, contudo, irá se dar neste uma introdução aos mesmos. Aniela Jaffé em seu livro "O mito do significado ‘na obra de C.G.Jung’" nos fala do conceito de arquétipo :
"A palavra arquétipo deriva do grego e significa "a cunhagem original". Com relação a manuscritos, denota o original, a forma básica para cópias posteriores. Em psicologia, os arquétipos representam padrões da natureza humana, ‘a especificidade humana do homem’. Como grandezas inconscientes, permanecem também irrepresentáveis e ocultos, mas se tornam indiretamente discerníveis pelas combinações que produzem na nossa consciência: os motivos análogos apresentados pelas imagens psíquicas e os motivos típicos de ação nas situações primordiais da vida – nascimento, morte, amor, maternidade, transformação, etc. O arquétipo per se é como um criador por trás dos motivos arquetípicos, mas só estes são acessíveis a consciência." (19)
E mais afrente ela diz:
"A concepção do arquétipo de Jung é uma continuação da idéia tradicional de Platão. Assim como para este a "idéia", uma espécie de modelo espiritual, é preexistente e supra-ordenada à exteriorização ou fenômeno, para Jung é o arquétipo. ‘’Arquétipo nada mais é que uma expressão, já existente na Antigüidade, sinônima de ‘idéia’, no conceito platônico’¹. Os arquétipos são ‘‘inclinações’ vivas e ativas, formas ou idéias no sentido platônico’². Existem em cada psique, preformando instintivamente seu pensamento, seu sentimento e sua atuação." (19)
Ela ainda diz :
"Em 1919, Jung fez pela primeira vez a comparação entre o arquétipo como fator estrutural da esfera espiritual-psíquica e o instinto como "tipo de natureza apriorística’ ordenadora da esfera biológica."
Jung ainda modificaria o conceito de arquétipo até sua concepção final formulada segundo Aniela Jaffé em 1946, mas este projeto não visa adentrar em um assunto tão vasto. Voltemos ao tema do bem e do mal abordando um arquétipo especifico, a Sombra. Marie L. Von Franz no livro organizado e escrito em parte por Jung "O homem e seus símbolos" nos diz sobre a sombra:
"A sombra não é toda personalidade inconsciente: representa qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego – aspectos que pertencem sobretudo a esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes. Sob certos ângulos a sombra pode, igualmente, consistir de fatores coletivos que brotam de uma fonte situada fora da vida pessoal do indivíduo.
Quando uma pessoa tenta ver a sua sombra ela fica consciente (e muitas vezes envergonhada) das tendências e impulsos que nega existirem em si mesma, mas que consegue perfeitamente ver nos outros – coisas como o egoísmo, a preguiça mental, a negligência, as fantasias irreais, as intrigas e as tramas, a indiferença e a covardia, o amor excessivo ao dinheiro e aos bens – em resumo, todos aqueles pequenos pecados que já se terá confessado dizendo : ‘Não tem importância; ninguém vai perceber e, de qualquer modo, ás outras pessoas são assim.’’" (168)
Segundo Jung, o mal e o lado negado da personalidade, a sombra, fazem parte da unidade do indivíduo que deve ter consciência desta sombra para seu processo de individuação, rumo a totalidade psíquica. Nos diz Aniela Jaffé (1983):
"...os "poderes da esquerda e da direita" fazem parte da unidade, e o objetivo da individuação não é o homem perfeito, mas o homem completo com sua luz e com sua escuridão. O mal, assim como o bem, é dado ao homem juntamente com o Dom da vida. Não pode nunca ser completamente vencido, embora o homem tenha a chance de contê-lo, tornando-se cónscio dele e analisando-o. Quanto mais consciente for de suas predisposições para o mal, mais condições terá de resistir às forças destrutivas dentro de si.
Em geral, a individuação tem início quando o homem se torna consciente da própria sombra, da escuridão e do mal inconscientes, que são, no entanto, parte integrante de sua totalidade."
E logo após nos mostra como a Sombra não é simplesmente o mal:
"Na sombra, vive tudo o que não quer ou não pode se adaptar aos costumes e convenções, assim como às leis religiosas e civis. É a "negação" mefistofélica, a contra-realidade com a sua desobediência, a vontade recalcitrante e a revolta contra o cânone cultural. Uma conformação com a sombra, entretanto, torna-se singularmente difícil pelo fato de ela não ser sempre, nem de modo inequívoco, um ‘mal’. A sombra não é tão-somente destrutiva, e a consciência nem sempre está do lado das prescrições gerais."
Jung não quis em momento algum a perfeição do ser humano, ou que este fosse totalmente bom –apesar da relatividade do termo- mas sim que este pudesse integrar os conteúdos que fossem seus ou que "brotassem" do inconsciente coletivo, o que muitas vezes atrapalha esse crescimento, esta individuação continua é o que Jung chamou de persona, Bonfatti nos fala sobre a mesma :
"Além de máscara a Persona é um papel. São os papéis desempenhados ao longo da história (pai, mãe, sacerdote) que orientam a nossa conduta. Apesar de orientadora, quando ela se torna dominante, pode abafar o indivíduo. (7)
E mais afrente diz:
"Mas, ao mesmo tempo, a identificação com a persona, com a máscara, leva a uma perda do contato com o lado sombrio da personalidade e a personalidade total e real fica distante e oculta." (7).
Bonfatti cita Jung e nos demonstra uma boa síntese da visão Junguiana acerca do assunto:
"Só o auto-conhecimento mais amplo e severo possível, que olhe o mal e o bem numa relação correta e seja capaz de ponderar todos os aspectos, oferece uma certa garantia de que o resultado final não será muito ruim." (10)
Será necessário ao artigo adentrar as idéias Nietzscheanas, para que seja levado a fundo as ligações e divergências entre Nietzsche e Jung acerca do assunto tratado.

quarta-feira, junho 15, 2005

O Arquétipo Psicóide.

Livro: O Mito do Significado de Aniela Jaffé ; cap 2.

O Arquétipo Psicóide

O arquétipo é "um elemento do espírito", o instinto, "natureza pura não falsificada" - tais são as suas descrições contraditórias (ou, para ser mais exato, do seu "modelo"). Deve-se, assim, pensar nele como uma entidade paradoxal. Não é raro o estabelecimento de paradoxos na ciência, mesmo nas ciências naturais. Um exemplo bem conhecido é o eletron, que se apresenta à observação ora como onda, ora como partícula. Embora a observação de uma realidade exclua a de outra, ambas são válidas. Elas se completam mutuamente. O Dr.Robert Oppenheimer fala, nesse sentido, de uma "dualidade" que se aplica à natureza da luz e de toda matéria. Uma dualidade, "um problema dos opostos que é profundamento característico da psique", é válida também para os conteúdos do inconsciente. No fundo, trata-se menos de opostos do que de antinomias, de modalidade de manifestações que se completam.

No decorrer dos anos, Jung fez constantemente novas e mais realísticas formulações da "idéia" do arquétipo e do "modelo" projetado por ele. A concepção de sua antinomia, no entanto, não só permaneceu intacta como foi aprofundada. A correção final e decisiva, formulada em 1946, foi a afirmação, à primeira vista surpreendente, de que os "arquétipos têm uma natureza que não pode ser designada, com certeza, como psíquica". Ele tirou essa conclusão teórica do fato de a natureza real do arquétipo como conteúdo do inconsciente coletivo permanecer irreconhecível, do fato de ela ser uma entidade "metafísica" e, como tal, não suscetível de definição final e inequívoca. Desde então, denominou o arquétipo "psicóide" ou semelhante a alma. "Psicóide" é um conceito adjetivo que exprime a possibilidade de algo ser tanto psíquico como não-psíquico. Enquanto o modelo arquetípico fora até entçai descrito como uma antinomia entre instinto e espírito, esta lcança agora a mais extrema tensão entre "espírito e matéria" ou "espírito e mundo". Com isso, não sugere apenas a idéia da possibilidade de uma "cunhagem" arquetípica do mundo e do cosmos, mas Jung vê no arquétipo psicóide uma "ponte para o assunto em geral". A rigorosa sepração de psique e mundo é abolida. Em 1951, escreveu ele : "As 'camadas' mais profundas da psique perdem a sua singularidade indivídual à medida que aumentam a profundidade e a escuridão. 'Para baixo' quer dizer que, aproximando-se dos sistemas funcionais autônomos, se tornam progressivamente mais coletivos até se universalizarem e desaparecerem na materialidade do corpo, isto é, nas substâncias químicas. O carbono do corpo é simplesmente carbono. Portanto, 'no seu amago', a psique é simplesmente 'mundo'."

Essa nova caracterização do arquétipo como "psicóide", com todas as consequências que isso implica, é uma ampliação audaciosa senão lógica do modelo original do arquétipo como um todo autinômico e paradoxal. Seus aspectos complementares de largo alcance (como espírito e natureza, como elemento estrutural da psique e do mundo) explicam a sua aplicabilidade às ciências espirituais tanto quanto às ciências naturais e também por que a psicologia profunda pertence a ambos os campos.

sábado, junho 11, 2005

É de ponte e travessias,
que se faz a evolução
ou isso é um imperativo
que nos corta em solidão?
Evoluir é congruir,
ser os dois lados ao mesmo tempo
ou permanecer saltetando,
de lado a lado,
de extremo a extremo..

Ser humano dual,
A procura da tragédia,
que nos corta o sentimento
de dominio e de ordenação
que no corta o logos e,
nos esvai em contradição
-pois ainda queremos ser imortais-

ah, anátema da vida de superação,
oh maldição, oh improbabilidade,
ai estas, temporalidade
É essa continuidade de dor,
de amor, de prazer
Esta é a vida,
um universo de axiomas
que ainda podem ser,
ou que ja se foram,
neste céu evanescente.

"O meu olhar precipita-se para o cume, enquanto a minha mão quereria fincar-se e amparar-se... no abismo!" F.Nietzsche

quinta-feira, junho 02, 2005

-.-.-.-.-.-

Obs: este post não trata de assuntos filosoficos, metafísicos, literatos, baboseiras, ou etc... trata-se de uma catarse escrita de maneira espontanea e direta, agradecendo desde ja, seu piloto, John Stuart.

Tem dias que acordamos pensando só na desgraça. Até onde pode chegar a hipocrisia do ser humano, muitas vezes, nos vemos como os proprios hipocritas, "aquele que luta contra demonios deve tomar cuidado para não se tornar também um demonio". A queda no desfiladeiro é bem simples, e la podemos escolher alguns caminhos, a paranoia, a esquizofrenia, a subida do abismo, a negação do abismo como inexistente ou mesmo a aceitação do abismo como parte de nos.

E nessa luta contra a dor não há vencedores, nem derrotados, apenas uns que consguem lidar de "melhor" forma com o arrancamento de sua própria pele... tem gente que consegue aguentar ser mordido pela vida, tem outros que não. "O que eu provo a prato pleno, pode ser o seu veneno.."

Pensar que o universo conspira contra nos é tolice, é só mais um argumento pra tirar a nossa propria responsabilidade... mas talvez não seja tão tolo crer que existem situações as quais estamos cercados por todos os lados por onças e leões e existe apenas uma passagem de meio metro após todos eles e é por la que devemos passar... Ser mordido é inevitavel, desistir é uma escolha... vencer mesmo dilacerado, é outra.

A hipocrisia é maligna, mas podemos supera-la, não seguindo um caminho linear... mas com um salto, um pulo em rumo ao enfrentamento por mais doloroso que isso nos pareça, um salto quantico, um rumo a fé, um rumo ao agnosticismo, um rumo ao amor sufi, tanto faz... simplesmente um pulo necessário - que cada um tem suas necessidades, por adversas ou positivas que nos pareçam -.

Enfrentar, enfrentar, enfrentei... so espero ter feito a coisa certa, so espero que tudo possa brilhar... como um sonho estelar.