quarta-feira, junho 15, 2005

O Arquétipo Psicóide.

Livro: O Mito do Significado de Aniela Jaffé ; cap 2.

O Arquétipo Psicóide

O arquétipo é "um elemento do espírito", o instinto, "natureza pura não falsificada" - tais são as suas descrições contraditórias (ou, para ser mais exato, do seu "modelo"). Deve-se, assim, pensar nele como uma entidade paradoxal. Não é raro o estabelecimento de paradoxos na ciência, mesmo nas ciências naturais. Um exemplo bem conhecido é o eletron, que se apresenta à observação ora como onda, ora como partícula. Embora a observação de uma realidade exclua a de outra, ambas são válidas. Elas se completam mutuamente. O Dr.Robert Oppenheimer fala, nesse sentido, de uma "dualidade" que se aplica à natureza da luz e de toda matéria. Uma dualidade, "um problema dos opostos que é profundamento característico da psique", é válida também para os conteúdos do inconsciente. No fundo, trata-se menos de opostos do que de antinomias, de modalidade de manifestações que se completam.

No decorrer dos anos, Jung fez constantemente novas e mais realísticas formulações da "idéia" do arquétipo e do "modelo" projetado por ele. A concepção de sua antinomia, no entanto, não só permaneceu intacta como foi aprofundada. A correção final e decisiva, formulada em 1946, foi a afirmação, à primeira vista surpreendente, de que os "arquétipos têm uma natureza que não pode ser designada, com certeza, como psíquica". Ele tirou essa conclusão teórica do fato de a natureza real do arquétipo como conteúdo do inconsciente coletivo permanecer irreconhecível, do fato de ela ser uma entidade "metafísica" e, como tal, não suscetível de definição final e inequívoca. Desde então, denominou o arquétipo "psicóide" ou semelhante a alma. "Psicóide" é um conceito adjetivo que exprime a possibilidade de algo ser tanto psíquico como não-psíquico. Enquanto o modelo arquetípico fora até entçai descrito como uma antinomia entre instinto e espírito, esta lcança agora a mais extrema tensão entre "espírito e matéria" ou "espírito e mundo". Com isso, não sugere apenas a idéia da possibilidade de uma "cunhagem" arquetípica do mundo e do cosmos, mas Jung vê no arquétipo psicóide uma "ponte para o assunto em geral". A rigorosa sepração de psique e mundo é abolida. Em 1951, escreveu ele : "As 'camadas' mais profundas da psique perdem a sua singularidade indivídual à medida que aumentam a profundidade e a escuridão. 'Para baixo' quer dizer que, aproximando-se dos sistemas funcionais autônomos, se tornam progressivamente mais coletivos até se universalizarem e desaparecerem na materialidade do corpo, isto é, nas substâncias químicas. O carbono do corpo é simplesmente carbono. Portanto, 'no seu amago', a psique é simplesmente 'mundo'."

Essa nova caracterização do arquétipo como "psicóide", com todas as consequências que isso implica, é uma ampliação audaciosa senão lógica do modelo original do arquétipo como um todo autinômico e paradoxal. Seus aspectos complementares de largo alcance (como espírito e natureza, como elemento estrutural da psique e do mundo) explicam a sua aplicabilidade às ciências espirituais tanto quanto às ciências naturais e também por que a psicologia profunda pertence a ambos os campos.

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