terça-feira, novembro 15, 2011

Ferida sem sutura

No lúgubre canto do encanto,
Cantando com a voz roca ou com a poesia,
No voar do pássaro que anima,
As minhas mais doces fantasias

Perdi em algum canto,
Recôndito, sujo e santo
Aquela mais bela imagem
Da utopia feita em ser

A massa é sempre corrompida
Pelo inferno dos outros anunciado,
Nosso eu é uma lastimosa ferida
De um mundo já,
Desde então,
Detonado.

Anima de novo!

Nunca imaginei que seria eu a dar o adeus,
E diante de tantos sábios,
Sinto-me estúpido,
Um analfabeto do sentimento

Muitíssimo,
Senti.
Como poderia imaginar?
O carro partiu contigo.

Sequer sei quem sou
Se uma espécie de gente
Se uma espécie de gasolina ou motor

Sequer sei quem sou
Se um produto do sonho
Se uma máquina de horror

Mas o que queima é ver,
Todo o sentido,
E toda falta de sentido

O que mais queima é sentir,
Todo o sentido,
E toda falta de sentido

A alma é voadora,
De mil asas,
Não sei, do fundo do coração,
Se ela de fato voou,
Mais uma vez.

Sei, TALVEZ,
Que as lagrimas atravessam meu peito,
Mas não tem por onde sair.

Existem marcas
Em você, em mim,
Existem marcas nela,
Sim, também nela.

Seria me identificar,
Com uma sombra profunda,
Ver-me como uma máquina,
Uma máquina de horror?

domingo, julho 10, 2011

Psicodelia: uma visão desentorpecida

Saúde do Trabalhador e Qualidade de Vida

Novo blog que criei sobre saúde do trabalhador e qualidade de vida, só clicar AQUI

Interessados entrem em contato para expandirmos o blog.

Abraços

segunda-feira, abril 25, 2011

Para além do normal: a experiência das portas entre abertas

O caminhar se dá num espaço escuro, com o chão entre o cinza e o verde, talvez pela mistura de uma leve camada de lodo. “Talvez esteja num Castelo, mas certamente se trata de um ambiente estilo medieval” penso, com o andar lento e vacilante. Os corredores são finos e dão acesso a tantas portas como se poderia imaginar.


Um sentimento abrupto, construído com o tempo, tanto mítico como saturnino, dá a impressão de que teria um infarto do miocárdio! A onda de sentimento, a cena mais linda, sublime e terrena, reunindo os mais amplos espectros de Afrodite: elas se beijaram e fizeram carinho, um no rosto da outra, como se o universo fosse apenas uma rosa. Pensei, naquele momento, que as guerras seriam impossíveis depois de então, tamanha a beleza contemplada.

As paredes rugem. Retomando a realidade, num fustão vermelho, tenho medo. Será que esta realidade poderia ser experienciada por um mortal ou seria apenas reservada aos deuses? Estaria eu ultrapassando a medida e me colocando numa armadilha de sereias, fiando um destino sinistro?

Já estava na esquerda, há muito tempo, e não havia sentido com tanto ardor a sua face bela, quanto naquele momento. Não podia acreditar no pior, mas a dúvida é uma cobra sinistra, obscuramente fálica.

Olhei para onde estava, cercado pelas 1001 portas, sem saber como decidir, sem saber exatamente para onde ir. As certezas foram cortadas da minha cabeça com uma lamina fulminante. Abrir um pouco de cada uma não fez a dúvida amenizar, ao contrário, me tornei um pequeno conhecedor das milhões de realidades, sem pertencer a nenhuma. Um psiconauta adaptado, porém, inadaptável.

O calor do desejo ainda cria fungos, onde havia matéria bruta. “Vou insistir, não tenho outro caminho”, pensa nosso jovem, já não tão jovem, mas ainda a espreita do sentido, idolatrando as imagens da alma, que nos fizeram chegar até aqui.

segunda-feira, abril 11, 2011

Qual estória contar?
Tal qual minha vida?
Escrever é tempo
De falar das dores,
Pois que dos amores,
Quero mais é vivê-los!

A retórica da alma
Amarela o sol
Avermelha o sangue
Esconde a nuvem de chuva

E com o vagar e a calma
Fala tanto sobre nossa estrada
Como a animosa música

Calmo como uma bomba.
Passa o caminhão,
De porta aberta
Tocando funk
A dor aperta
O peito dói
Sol escuro
Mudo

Atro-pelado,
Ator pelado
Desnudo
Envergonhado

Calo surdo: som do mundo
Afoite e medo
Do que vem de dentro
Dor imbecil!

domingo, janeiro 23, 2011

O que conta o conto?

O ano é 1542. Cercado de natureza, mas uma natureza a espreita do terror.... do torpe Europeu que a rondava.. Sangue-sugas. Pestes. Pombos: levando as informações que poderiam dominar e controlar os fortes estranhos que habitavam aquelas terras. A medicina deplorável do homem branco procurava igualar-se a sabedoria dos curandeiros, já que os pobres coitados haviam renegado a casa das bruxas e produzido a perversa inquisição. Malleus maleficarum.

- Xiii. Silêncio. Não deixe que eles nos escutem – sussurrava Hanayunahama às cinzas de sua amada.

Um grito torpe, en(torpe)cente, urgia da caixa preta, das cinzas das cinzas. O curandeiro, Hanayunahama, não se fez por estúpido e logo colocou sua amada, vítima de horrenda fogueira na Europa narcotizada pela imbecilidade do dogma, num tipi e pediu para uma onça que soprasse em suas narinas os pós de sua amada.

Talvez por este artifício, nunca saberemos, dizem as estórias, contatadas até hoje em sua tribo, que o curandeiro não foi encontrado pelas longas florestas da América Central. Como Zapata, ele ainda ressurge nas lendas e mitos, contados pelos sábios anciões, que sempre repetiram que Hanayunahama está vivo no coração daquele que possa senti-lo.

- Bruxa!!! Bruxaa!!! – A multidão gritava afarofada! Cristãos cruéis recitavam num ritual satânico os mantras da caça às bruxas. “Omne bonum a Deo, omne malum ab homine”. A camponesa de cabelos vermelhos, acusada de bruxaria, feitiçaria, pois teria feito um terrível unguento a base de solanáceas alucinógenas que levariam ao contato do Mal supremo, o anjo decaído, doravante, o DIABO. Pois que foram com estas palavras: diabolum – aquilo que separa – que os cristãos perversos separaram o élan vital do corpo da temida bruxa e o transportaram para bem longe. Para o “Outro” mundo. O mundo da loucura, do instinto, do sensual: as Américas.

Os olhos de Hanayunahama queimavam após a aspiração nasal. É como se tivesse integrado uma parte poderosa da divindade que respirava pelas árvores, pelos cactos, rios ou montanhas. A queimada bruxa vivia e agora era uma proporção dentro do curandeiro. A natureza que permeia a natureza, como forma de outra natureza, aperfeiçoa a beleza do mundo.

Um portal azul. Alguns dizem que fruto da imaginação indígena, outros dizem que da realidade das coisas, o fato é que desde que o tal portal foi visto por um pequeno índio guerreiro nunca mais Hanayunahama foi visto. Um estranho jovem, com roupas esquisitíssimas, por vezes acometia a paisagem dos povos indígenas e não indígenas, levando uma sensação de estranheza e, por vezes, medo.