sexta-feira, janeiro 19, 2007

Duvidas (e a falta delas) Cartesianas

Penso, logo existo.
Ao pensar descarto qualquer duvida de uma possível loucura,
Não cogito sobre ela, logo não sou louco.
O louco não cogita sobre sua loucura,
Logo, ele não é louco,
Alem do que, o louco não pensa,
Logo, ele não existe,
E é tão louco (inexistindo) que é o menos loucos dos seres,
Pois é o único que ainda não cogitou realmente sobre sua loucura.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

A Jornada.


A terra batida é o chão, marrom escuro, semi-úmido. O vento frio sopra o desatino: tristes flores não mais cantarão. Um medo toma conta do sujeito, assujeitado por sua falta de tino. Nem sempre foi assim, dirá um velho sábio. Nem sempre. Tudo começou quando Satan chegou, trouxe toda sorte de sortilégios. Efêmero, diria mais, aterrador. O prazer se esvai com facilidade nesta terra que causa um certo arrepio. Satan traz o medo, a descrença, a separação.

Medo de não agüentar, a juventude sempre pareceu mais bela: contestadora, imprevisível, destemida, efêmera e andando em cordas bambas. Adaptar, palavra desprivilegiada naquela geração. Tudo já foi mais fácil. Separação: infância, adolescência, adultescencia, adultice e velhice. Morte. Medo. Marcas. Trabalho. Trindade.

Tempo: senhor maligno que come seus filhos impiedosamente. Essa é a história, estamos prontos. Não estamos prontos. É Satan que traz o medo, o medo de viver, de morrer, de crer, de se ajuntar. Separa como a morte, Thanatos, busca seus filhos de pouca sorte. Maldição. A maldição. Amaldiçoados. Em tristes reinados não há o que cogitar, a única aventura possível é partir pra cima gemer e amar.

E não é o amor, este fogo que emana, que a tudo faz mover? Sobre a insígnia do amor o herói enfrenta o mundo, se for preciso. É um gesto nobre, por conseguinte, preciso. Não que não seja dotado de erros, ao contrário, é o cumulo do erro. É o erro que foge ao prazer supremo da morte. Mas ao fugir do prazer da morte se desespera. Desespera por ter que viver desesperado, desespera por ter que Sofrer. Desespera por querer ser outra pessoa, desespera por querer ser quem ele realmente é.

Tormento agudo. Eis a insígnia do herói. Sai de sua terra sem conhecer esse novo mundo. Apenas teme, e ao temer, ao invocar Satan, transforma a floresta em pântano. Comete o erro de perguntar ao pássaro como andar. Um lobo nunca perguntaria a um hipopótamo como caçar. Ele simplesmente sabe, não há como duvidar. A procura é concreta e dolorosa. Seja como for, existe um bebe a sua espera, Sophia é seu nome. Só assim poderá alcançar o centro. Um pedaço de um tesouro perdido há milênios atrás. Conscientemente perdido. Tzimtzum.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Lógica de uma Violência e a Violência de uma Lógica


Estamos a espreita. Procurando a paz onde pudermos encontrá-la, entre traficantes, policiais ou milícias fora-da-lei. O muro pintado da cidade revela o desejo: Paz. Sem mais, nem menos: Paz. Onde o desejo de paz encontra o “de pais” é difícil demarcar, se entrelaçam, se entrecruzam. Procuramos uma proteção e assim estamos a espreita da Paz. Qual Paz queremos? No olhar da velha senhora as palavras não deixam duvida: “Se botassem dez bandidos no paredão acabava com isso!”. Paz sem Paz, ou melhor, a hipótese é transparente como o rio antes da poluição da industria: “o massacre leva a Paz”.

Fazemos então uma distinção em forma da lei: “Há os que são bons e há os que são maus”. É bem simples: Se existe “A x B” e A vencer B só restará A, desta forma a guerra leva a paz. Dessa forma o Estado venceria o Crime-Estado. Mas os nossos obstinados defensores da Paz não perceberam ainda uma falta grave em sua lógica. Existem também policiais bandidos e bandidos policiais. Então entre os sistemas estabelecemos outros pontos: existe também AB e BA. E o pior! (incompreensivelmente pior) Existem A que viram B, B que viram A, A que viram AB, etc... Etc.

Apelemos então para o ponto de vista, para a estranha hipótese de que não existe um único modo de ver o mundo. Para uns os bandidos são bons e para outros eles são maus, para uns a policia é boa e para outros ela é má. Será que se trata então de uma questão ideológica? Se existissem ideologias que se digladiassem desde sempre seria fácil responder essa pergunta: Sim, seria a resposta, mas encontramos barreiras nítidas nesse pensamento. É bem simples: os bandidos eram pobres, os bandidos desejam ficar ricos, os bandidos não tinham poder, os bandidos desejam o poder, por conseguinte: os bandidos desejam ser o Estado, a ordem e a lei. Os bandidos hoje são, entre tantas coisas, uma copia tosca do Estado e do puro desejo capitalista: capitalista selvagem.

Onde ficamos entra tamanha confusão? Seria muito fácil dizer: Ambos não prestam, pois desejam dominar, excluir, massacrar, incriminar, marginalizar. No entanto, também seria muito cômodo tomar parte de um dos lados e se calar, ficar parado, omisso a toda sorte de assassinatos, de estupros, de torturas. É uma questão de intenção. Aonde desejamos chegar.

Queremos Paz e, como diz uma bela mulher hippie: “Querer paz através da guerra é como querer a virgindade através do sexo”. Queremos Paz, mas com nosso imediatismo infantil só teremos guerra. A policia mineira entra na história como um novo comando. Um novo Estado marginal, um tanto anal, claro, não quer dar o “presentinho” (a favela) da Grande Mamãe “Policia”, mas, como resolve a diarréia escatológica (o tráfico), a policia a permite ficar lá, na santa paz dos assassinatos. Assassinam travestis, usuários de drogas e traficantes. Colocam sua moral conservadora em primeiro plano: “Ou é como queremos que seja, ou não é” e em meio a esta moral compulsiva assassinam a diversidade, o diferente, o outro.

Não queremos dizer que os traficantes sejam bonzinhos: e, acreditem, não o dissemos. Não queremos trafico, não queremos ditaduras, que se faça ouvir: queremos Paz. No entanto, queremos ressaltar que o trafico só existe porque existe um mercado ilegal, informal, isto é, um recalque, uma proibição, uma castração sintomática e desnecessária promovida pela nossa tão famigerada organização política (no pior dos sentidos). E ficamos jogados nesse novo mundo, nessa Nau dos Loucos do século XXI, entre as águas agitadas de um mar tortuoso, jogados, como diz Laing “num mundo louco” e ainda desejam fervorosamente que nos adaptemos, que respeitemos as leis dessa sociedade... Respeitar o que? Um tipo de pensamento que promove sua própria desgraça? Um tipo de sociedade que promove a exclusão e a barbárie? Há quem respeite, mas me desculpem meus digníssimos senhores, não eu. Não posso me calar quando vejo o transporte aumentar ainda mais, enquanto a população passa necessidade, não posso me calar ao ver os deputados quererem um aumento de 91% enquanto o salário mínimo decai (e o Globo diz que ele aumenta). Não digníssimos senhores, tenho que deixar meu sincero “Vão se fuder!” para nossos amigos do alto escalão financeiro e um grande desejo de má sorte para essa política esdrúxula.

Assim foi falado, assim foi dito.