quinta-feira, janeiro 04, 2007

Lógica de uma Violência e a Violência de uma Lógica


Estamos a espreita. Procurando a paz onde pudermos encontrá-la, entre traficantes, policiais ou milícias fora-da-lei. O muro pintado da cidade revela o desejo: Paz. Sem mais, nem menos: Paz. Onde o desejo de paz encontra o “de pais” é difícil demarcar, se entrelaçam, se entrecruzam. Procuramos uma proteção e assim estamos a espreita da Paz. Qual Paz queremos? No olhar da velha senhora as palavras não deixam duvida: “Se botassem dez bandidos no paredão acabava com isso!”. Paz sem Paz, ou melhor, a hipótese é transparente como o rio antes da poluição da industria: “o massacre leva a Paz”.

Fazemos então uma distinção em forma da lei: “Há os que são bons e há os que são maus”. É bem simples: Se existe “A x B” e A vencer B só restará A, desta forma a guerra leva a paz. Dessa forma o Estado venceria o Crime-Estado. Mas os nossos obstinados defensores da Paz não perceberam ainda uma falta grave em sua lógica. Existem também policiais bandidos e bandidos policiais. Então entre os sistemas estabelecemos outros pontos: existe também AB e BA. E o pior! (incompreensivelmente pior) Existem A que viram B, B que viram A, A que viram AB, etc... Etc.

Apelemos então para o ponto de vista, para a estranha hipótese de que não existe um único modo de ver o mundo. Para uns os bandidos são bons e para outros eles são maus, para uns a policia é boa e para outros ela é má. Será que se trata então de uma questão ideológica? Se existissem ideologias que se digladiassem desde sempre seria fácil responder essa pergunta: Sim, seria a resposta, mas encontramos barreiras nítidas nesse pensamento. É bem simples: os bandidos eram pobres, os bandidos desejam ficar ricos, os bandidos não tinham poder, os bandidos desejam o poder, por conseguinte: os bandidos desejam ser o Estado, a ordem e a lei. Os bandidos hoje são, entre tantas coisas, uma copia tosca do Estado e do puro desejo capitalista: capitalista selvagem.

Onde ficamos entra tamanha confusão? Seria muito fácil dizer: Ambos não prestam, pois desejam dominar, excluir, massacrar, incriminar, marginalizar. No entanto, também seria muito cômodo tomar parte de um dos lados e se calar, ficar parado, omisso a toda sorte de assassinatos, de estupros, de torturas. É uma questão de intenção. Aonde desejamos chegar.

Queremos Paz e, como diz uma bela mulher hippie: “Querer paz através da guerra é como querer a virgindade através do sexo”. Queremos Paz, mas com nosso imediatismo infantil só teremos guerra. A policia mineira entra na história como um novo comando. Um novo Estado marginal, um tanto anal, claro, não quer dar o “presentinho” (a favela) da Grande Mamãe “Policia”, mas, como resolve a diarréia escatológica (o tráfico), a policia a permite ficar lá, na santa paz dos assassinatos. Assassinam travestis, usuários de drogas e traficantes. Colocam sua moral conservadora em primeiro plano: “Ou é como queremos que seja, ou não é” e em meio a esta moral compulsiva assassinam a diversidade, o diferente, o outro.

Não queremos dizer que os traficantes sejam bonzinhos: e, acreditem, não o dissemos. Não queremos trafico, não queremos ditaduras, que se faça ouvir: queremos Paz. No entanto, queremos ressaltar que o trafico só existe porque existe um mercado ilegal, informal, isto é, um recalque, uma proibição, uma castração sintomática e desnecessária promovida pela nossa tão famigerada organização política (no pior dos sentidos). E ficamos jogados nesse novo mundo, nessa Nau dos Loucos do século XXI, entre as águas agitadas de um mar tortuoso, jogados, como diz Laing “num mundo louco” e ainda desejam fervorosamente que nos adaptemos, que respeitemos as leis dessa sociedade... Respeitar o que? Um tipo de pensamento que promove sua própria desgraça? Um tipo de sociedade que promove a exclusão e a barbárie? Há quem respeite, mas me desculpem meus digníssimos senhores, não eu. Não posso me calar quando vejo o transporte aumentar ainda mais, enquanto a população passa necessidade, não posso me calar ao ver os deputados quererem um aumento de 91% enquanto o salário mínimo decai (e o Globo diz que ele aumenta). Não digníssimos senhores, tenho que deixar meu sincero “Vão se fuder!” para nossos amigos do alto escalão financeiro e um grande desejo de má sorte para essa política esdrúxula.

Assim foi falado, assim foi dito.

Nenhum comentário: