quarta-feira, maio 02, 2007

Love Hate Love

Texto de Felipe Liro.

“Eu te odeio! Te odeio do fundo da alma! Te odeio do fundo desta casa! E é aqui no fundo deste solo que vou te enterrar! Eu não preciso mais de você. Eu odeio você. Eu odeio vocês! Todos vocês! E todos vocês pagarão...”.

O Medo, que antes tão alegre, sorria e batia palmas enquanto se deleitava assistindo a cena virou-se para ele agora como se olhasse um espelho, os olhos vidrados em si mesmo. E pronto. Não havia mais Alegria. Esta jazia ainda fresca, ensangüentada no chão, caída aos seus pés, com eco surdo do baque de seu corpo ainda ecoando. E tremendo este também caiu, sem nem mais uma palavra. Não havia mais Medo.

“ Não preciso do Medo. Nem dele, nem da Alegria, nem de você! Vivo de mim mesmo.
Descobri hoje, quando vi o Orgulho cair no chão de joelhos, chorando e rastejando e implorando por você. POR VOCÊ! Patético e idiota. Que morresse como homem, mas não, ele implorou. E ele chamou, clamou por você... e o que você fez? Você não o deixou, e o deixou doente”.

“Onde esta a Paz? O que você fez com minha filha?” Perguntou aflito. “A Paz?” Respondeu. “Ha muito esta vinha sendo atormentada pelo Desespero e pela Desconfiança. Matei os três. Cansei de todos. Só haverá espaço para mim aqui dentro”.

Ele deu um passo à frente, sua face contorcida de si mesmo, seus olhos frios como água, brilhando como fogo.

“Não há mais Desespero, somente eu. Em minha lucidez eu sou forte!” Ele gritou. “Não há mais Coragem para resistir a mim, para se desculpar, perdoar, voltar ou seguir em frente. Somente eu.”!

“Não, não! Não a Paz, ela não...” ele murmurava ajoelhado entre soluços e lagrimas junto a Tristeza. A Esperança ruiu sob seu próprio peso, as mãos juntas ao peito, respirando com dificuldade.”

“NÃO PRECISO DA PAZ IRMÃO!” ele berrava enquanto chutava o corpo desfigurado da Calma, caída naquele chão vermelho, que parecia pulsar com a violência de cada murro dado. “DESDE QUE NASCEMOS NESTA CASA, ELA NUNCA OLHOU O GEMÊO BASTARDO NOS OLHOS!”.

“Mas a Esperança... olhe para ela, ela ainda vive”.

“Não preciso da Esperança! Após anos com ela não senti nada a não ser dor!”.

“Você é louco...”.

“E você um hipócrita. Você só pensa em você. Você é egoísta. Você separa a todos tanto quanto eu com tuas mentiras e fantasias que prometes, desejas e contas aos quatro cantos! Mas eu assumo a mim, abraço a mim e o que sou, enquanto você escorrega em si mesmo”. Ele dizia mergulhado em si. “Não sabes que no fim de tudo apenas eu sou verdadeiro? Apenas eu sou eterno! E você não passa de algo que trai os que te abrigam em um incesto macabro com teu filho. Teu filho que devora os homens por dentro enquanto você os joga de quatro no chão. Mas não mais! Enterrei o Ciúme! Porque eu me amo! Eu me amo enquanto você se odeia. Eu sou você e você eu”.

Dito isto se manteve parado em seu lugar, observando o outro se derretendo em choro. Não teve o prazer de matá-lo. Preferiu deixá-lo se matar afogado em suas próprias lagrimas, como ele sempre ameaçou fazer. Agora, com o Amor morto, ele olhou ao redor da casa fria, enchendo o coração com a fumaça de um cigarro, enquanto assistia os últimos suspiros da Esperança em sua agonia. E assim morreu também a Tristeza, com um sorriso irônico no rosto. Agora não havia mais nenhuma emoção na casa.

E o coração, agora vazio, vive assombrado para sempre pelo o pranto daquele que apunhalou o Ódio quando este possuía apenas a si para odiar. Pois nem o ódio vive sozinho. Nada vive sozinho, apenas ele. O ultimo deles. O único verdadeiro.
A Solidão.
Quem nunca se sentiu sozinho?

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