Sentada, habitualmente, entre as paredes verdes de seu apartamento, com sua televisão 21a polegadas, seu jornal , seus livros, sua vida, Daniela permanecia estática sobre a almofada colorida, sua visão perpassava seus óculos, sua visão, amarga. A mãe de Daniela ja começava a se preocupar com ela, ofereceu uns biscoitos, um café mas nada, absolutamente nada tiraria Daniela de sua reflexão, depressão, ou como queiram chamar.
Daniela tirou então um disquete de sua boca e foi dormir um pouco, quem sabe os sonhos fossem melhor que aquelas paredes verdes. Acordou renovada, que estranho, Daniela era toda felicidade até que reparou numa "coisa" fortemente estranha em seus sentimentos ( falemos "coisa" para aliviar o incomensurável ), algo estava faltando.
- Onde está MINHA CHALEIRA???? Gritou afobadíssima.
- Calma minha filha! Vamos achar. – respondeu a mãe, igualmente desesperada.
Talvez elas não tivessem percebido mas era tarde demais, Daniela a essa hora ja não poderia botar o disquete na chaleira que começara a vazar! Litros de leite caiam de Daniela que sentia-se desmanchando, angustia, desesperada, toda cena cômica (para não dizer grotesca) era visto pelos olhos da mãe histérica que gritava ajuda aos vizinhos.
- O que se passa neste recinto? - adentrou polidamente o vizinho, tipicamente verde.
- Minha filha!! Ela ta vermelha, vazando as bicas! Gestualizava a mãe de forma desconexa.
Daniele quebrava tudo ao redor, até começar a se acalmar, lentamente. Sua tonalidade fora do verde, ao vermelho e agora encontrava-se azul. Aos poucos recobrava os sentidos, tateava as paredes, coloridas. Boquiaberta, era a expressão que traduzia dona Jandira numa hora dessas, sua mãe.
- Minha filha, você está bem?
- Mãe, nunca estive melhor, sinto que sou eu mesma. Olhou então para uma planta que jamais virá, mesmo estando durante esses 23 anos em sua casa e sussurrou: "Mas que lindas".
A mãe olhou perplexa, não havia duvidas, a filha havia enlouquecido! Começou a chorar, até ameaçou um curto-circuito (o que é sem duvida perigoso nessa idade).
- Desculpe Srta.Jandira, preciso me retirar, deveria eu chamar o manicômio? Perguntou o vizinho verde.
- Bem, ja não parece haver mais nada a fazer, não me sobra nenhum truque as mangas. – disse a mãe, chorando enquanto descascava parafusos.
Daniele olhou surpresa para a mãe, nunca esperaria uma atitude daquelas, afinal, Daniela estava sentido-se otimamente bem, como nunca. Não, não poderia ficar ali parada, esperando que lhe enchessem a jarra de disquetes, Daniela chutou a formiga que estava a sua frente, abriu um guarda-chuvas enquanto lembrava frases duma musica do seu querida Raul Seixas e voou, cantando :
- Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu, por isso mesmo, eu não confio nela eu sou mais eu.
Dizem que essas palavras até hoje ecoam a noite, no prédio, verde
segunda-feira, novembro 29, 2004
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