sexta-feira, fevereiro 24, 2006


O Castelo

Lentamente andava, esperando algum augúrio, com a consciência refrescada pelo vento matinal. Cristina aguardava o momento certo, onde as conjunções extemporâneas em flutuações inatas poderiam dizer algo, sobre o porque de tudo aquilo. Andava calmamente pela praia, observando os pedestres, um a um, roupa a roupa, detalhe por detalhe; caminhava e não ignorava nenhuma sensação, sobrelevou-as a um grau altíssimo, tanto a de dentro, como as de fora.
O movimento de Cristina era lento, o pensamento, contudo, era a mil. O seu pensamento, que andava a trem bala, passava por diversas paisagens e conversava com seus vizinhos de cabine, no trem, tal como seu pensamento pensava o tempo todo e também, a todo tempo. Há dezessete horas que o pensamento seguia seu rumo, contudo, ate agora não chegara ate seu destino. Seu destino? Ele mesmo não sabia, tal como, também Cristina não sabia. Podemos dizer que seu destino estava lá, onde tudo se desfaz, e um albatroz o guardava, como um segredo de sete chaves trancadas.
Bem sabemos, que o albatroz come peixes.
- Um dia, poderei eu, infante da delinqüência, marchar pelos cadáveres do meu passado? A vida um dia me dará aquela infância, aquele prazer, de viver em protuberância – de estado de espírito -? Eu me mordo, e assim, estarei evitando, a todo modo, aquele augúrio a que procuro, de tal maneira, que sem ele não posso prosseguir?
A essa altura dos acontecimentos seu chinelo não falava, mas grasnava, e para sobrepor seus berros Cristina fazia-o dançar, para deixá-lo, ao menos, mais feliz. Com efeito, e de maneira bizarra, parecia a dança, essa epigênese dos ditirambos, a produtora do fenômeno tão esperado, o augúrio que tanto ressoava em sua mente, e de maneira ainda mais potente, em sua alma.
O algurio estava ali, a sua frente, concentrado. Ele produzia um castelo de areia, com suas mãos débeis, não de habilidade, mas de qualquer coisa que poderia chamar-se de humana. Sua aparência era grotesca, talvez, por viver na rua, talvez, por escolha própria, ou ainda, poderia ser apenas parte da realidade da alma e do poder de Cristina.
Cristina ao ver aquela cena, não se conteve, começou a chorar, as lagrimas pesadas corriam sua face em uma competição frenética, que nada competia, para ver qual caia mais rápido no chão e ajudaria a criar um novo florescer de uma vida que ainda está por nascer. Abismada, assim encontrava-se Cristina, com os olhos não só em lagrimas, sua respiração ofegante, suas mãos, tremulas, seu coração, apertado.
- Só pode ser ele, eu não acredito, finalmente – enquanto pensava em seus botões, todo seu corpo se contagiava, seus pés cansados faziam uma festa tremenda e chegavam ate mesmo a dar cantadas – naquele momento oportuno – nas unhas.
Correu de maneira atroz em direção a seu alvo, seu augúrio. O mendigo não compreendeu bem a expressão de felicidade de Cristina ao abordá-lo, contudo, ficou muito feliz em ver aquele contagio; fez então, o que só um rei saberia fazer, falou com aquela voz falha e, no entanto, sabia, que aprendeu com a vida:
- Venha fazer um castelo comigo.
Nesse momento Cristina entrou em êxtase, caiu num abismo dentro de sua alma, e tudo parecia brilhante – como estrelas -, seu corpo dizia, você tem tudo, esse é o maior momento de sua vida ate hoje, aproveite-o serenamente. Ela tremeu. Como uma menina levada, jogou um pouco de areia em Rico, o mendigo, que sorriu com seus dentes podres, todavia, que beleza maravilhosa havia naquela arcada, beleza que só um mago, ou um rei, poderiam ver.
Cristina começou então, vagarosamente, e com estilo, a construir aquele castelo ao lado de Rico, fizeram um lindo castelo que, em muito, se parecia com as belezas dos castelos medievais que hoje só vemos nos cinemas. O sol batia as portas do castelo, como que pedindo para entrar, o vento ressoava e levava alguns grãos de área ou alguns tijolos daquele castelo esplendido. O castelo aos poucos começou a falar – afinal, as crianças sempre crescem – e disse em tom afável:
- A vida no castelo é maravilhosa. Abençoados sejam aqueles que fortificaram os meus rizomas.
Rico sorriu. Cristina que ate então via tudo como maravilhoso, que montara aquele tonal com uma vagareza e perfeccionismo inigualáveis, agora começara a ver ressoar daquela fortaleza algo de obscuro, algo de terrível. Tentou se comunicar com rico, que sorria, mas uma afasia repentina não lhe permitia, chegou a um passo de um abismo que parecia sem fim, mas seu corpo ordenou-lhe a volta. Com aquela dificuldade incompreensível finalmente soltou as palavras presas na garganta:
- Rico! O castelo! É um monstro!
Rico começou a rir-se em demasiadamente. “Cristina”, disse ele, não se apoquente, pois tudo que pode ser feito, pode ser desfeito. Chutou o castelo. Os dois sorriram, deram um estalinho, em um gesto de carinho, e começaram a fazer um novo castelo.
Esse novo castelo, como é bom dizer, era maravilhoso e, diferente do outro, tinha mais entradas, mais saídas, mais janelas, e falava ainda mais. Cristina sabia que sua vida mudaria desde então, pois agora, seria aquilo que desejava ser. Sui generis. Original. Então depois de construir mais um castelo e derrubá-lo, despediu-se do seu herói, Rico, e viram-se como iguais.
- Adeus Rico! E sorriu-se.
- Adeus Cristina. Foi maravilhoso encontrá-la. Sempre soube que você conseguiria chegar ate mim.
E finalmente os sapatos disseram:
- Cristina, é hora de irmos. Enquanto falavam, obviamente, eles sorriam..

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

A cerveja a previsão do tempo.


A cerveja a previsão do tempo.

Estabeleci um novo método de previsão de tempo. É bem simples. Aos que queiram saber a previsão do tempo, as localizações de nuvens próximas a sua localidade especifica, basta aplicar o método. Dessa forma você poderá saber se no dia seguinte choverá, terá muitas nuvens, poucas ou nenhuma, etc.

O Método:

Compre uma garrafa, lata, ou congêneros, desde que, tenha cerveja. Insira-a num recipiente, por exemplo, um copo; espere ate que a espuma tenha acalmado, neste momento, gire o copo de lado 180 graus e observe de que forma a espuma se manifesta. As espumas representam as nuvens do dia seguinte, a proporção de tempo é de aproximadamente 1-4 (1seg de espuma por 4 horas reais do dia seguinte), ou seja, se você ficar olhando as manifestações de nuvem durante 6 segundos você verá como o tempo irá se comportar no dia seguinte.

Em caso de duas previsões divergentes: Repita o procedimento. Caso de novamente oposto, isso significa um erro na aplicação do teste.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Liçoes de Dom Juan.


Pequena parte do livro: Porta para o infinito de Carlos Castaneda.



Dialogo entre Dom Juan e Castaneda:

- Já lhe dei todas as informações necessárias. Agora cabo a você a responsabilidade de conseguir suficiente poder pessoal para fazer pender a balança.
- Você esta falando por metáforas – disse eu – Diga sinceramente. Diga exatamente o que devo fazer. Se já me disse, digamos que já esqueci.
Dom Juan riu-se e deitou-se, pondo os braços por baixo da cabeça.
- Você sabe exatamente do que precisa – disse ele.
Expliquei-lhe que às vezes achava que sabia, mas que a maior parte do tempo não tinha confiança em mim.
- Acho que você está misturando as coisas – prosseguiu ele. – A auto confiança do guerreiro não é a mesma que a do homem comum. Este busca a certeza aos olhos do espectador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro busca a impecabilidade a seus próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está agarrado a seus semelhantes, enquanto o guerreiro só se agarra a si mesmo. Talvez você esteja perseguindo uma quimera. Busca a autoconfiança do homem comum, enquanto devia estar atrás da humildade do guerreiro. A diferença entre os dois é notável. A confiança em si significa saber algo com certeza; a humildade significa ser impecável em suas ações e sentimentos.
- Estive tentando viver de acordo com suas sugestões – disse eu. – Posso não ser o melhor, mas sou o melhor de mim mesmo. Isso é ser impecável?
- Não. Tem de fazer mais que isso. Você tem de se esforçar ao maximo, o tempo todo.
- Mas isso é loucura, Dom Juan. Ninguém o consegue.
- Há muita coisa que você faz agora que lhe teria parecido loucura há 10 anos. Essas coisas em si não mudaram, mas sua concepção de si mesmo mudou; o que antes era impossível é hoje inteiramente possivel, e talvez que o sucesso total em se modificar seja apenas uma questão de tempo. Nesse assunto, o único caminho aberto a um guerreiro é agir persistentemente e sem reservas. Você já sabe o suficiente sobre o procedimento do guerreiro para agir de acordo, mas seus velhos hábitos e rotinas o atrapalham.

E varias paginas a frente:

- Você ainda não compareceu a seu compromisso – acrescentou.
Eu lhe disse que não me sentia digno e que talvez fosse melhor voltar para casa e voltar ali quando me sentisse mais forte.
- Você esta dizendo besteira – retrucou ele – Um guerreiro aceita seu destino, seja qual for, e o aceita na mais total humildade. Aceita com humildade aquilo que ele é, não como fonte de pesar, mas como um desafio vivo. É preciso tempo para cada um de nos compreender esse ponto e vivê-lo plenamente. Eu, por exemplo, detestava a simples menção da palavra humildade. Sou índio e nos índios sempre fomos humildes e nunca fizemos outra coisa senão curvar a cabeça. Pensei que a humildade não fazia parte da vida de um guerreiro. Mas estava enganado! Hoje sei que a humildade de um guerreiro não é a humildade de um mendigo. O guerreiro não curva a cabeça para ninguém, mas ao mesmo tempo não permite que pessoa alguma curve a cabeça para ele. O mendigo, ao contrario, prostra-se de joelhos por qualquer coisa e lambe as botas de quem quer que ele considere seu superior; mas, ao mesmo tempo, exige que alguém que lhe seja inferior lhe lamba as botas. Foi por isso que lhe disse antes que eu não sabia como se sentiam os mestres. Só conheço a humildade do guerreiro, e isso nunca permitirá que eu seja mestre de alguém.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

O Guarda-Roupas



Parado.
Observa continuamente
Qualquer movimento suspeito,
Vive sempre a espreita
De um terrivel sujeito

Mascarado.
Segue tua regra matinal,
Ficar bem em frente ao sinal
sobre a mancha caotica
dos andarilhos do caos

Personalizado.
Com seu cacetete
Aplica as leis como tais
Mostra-se rigido e fulgaz
E deixa brilhar o destintivo

Mortal.
Demonstra o poder,
Que lhe deram direito-dever
Proteger ou matar a populaçao
Entre o bem e o mal in-fraçao

de segundos mortais,
escolho tua vida,
nao abra os portais,
para tua despedida

pois eu sou a lei