O Castelo
Lentamente andava, esperando algum augúrio, com a consciência refrescada pelo vento matinal. Cristina aguardava o momento certo, onde as conjunções extemporâneas em flutuações inatas poderiam dizer algo, sobre o porque de tudo aquilo. Andava calmamente pela praia, observando os pedestres, um a um, roupa a roupa, detalhe por detalhe; caminhava e não ignorava nenhuma sensação, sobrelevou-as a um grau altíssimo, tanto a de dentro, como as de fora.
O movimento de Cristina era lento, o pensamento, contudo, era a mil. O seu pensamento, que andava a trem bala, passava por diversas paisagens e conversava com seus vizinhos de cabine, no trem, tal como seu pensamento pensava o tempo todo e também, a todo tempo. Há dezessete horas que o pensamento seguia seu rumo, contudo, ate agora não chegara ate seu destino. Seu destino? Ele mesmo não sabia, tal como, também Cristina não sabia. Podemos dizer que seu destino estava lá, onde tudo se desfaz, e um albatroz o guardava, como um segredo de sete chaves trancadas.
Bem sabemos, que o albatroz come peixes.
- Um dia, poderei eu, infante da delinqüência, marchar pelos cadáveres do meu passado? A vida um dia me dará aquela infância, aquele prazer, de viver em protuberância – de estado de espírito -? Eu me mordo, e assim, estarei evitando, a todo modo, aquele augúrio a que procuro, de tal maneira, que sem ele não posso prosseguir?
A essa altura dos acontecimentos seu chinelo não falava, mas grasnava, e para sobrepor seus berros Cristina fazia-o dançar, para deixá-lo, ao menos, mais feliz. Com efeito, e de maneira bizarra, parecia a dança, essa epigênese dos ditirambos, a produtora do fenômeno tão esperado, o augúrio que tanto ressoava em sua mente, e de maneira ainda mais potente, em sua alma.
O algurio estava ali, a sua frente, concentrado. Ele produzia um castelo de areia, com suas mãos débeis, não de habilidade, mas de qualquer coisa que poderia chamar-se de humana. Sua aparência era grotesca, talvez, por viver na rua, talvez, por escolha própria, ou ainda, poderia ser apenas parte da realidade da alma e do poder de Cristina.
Cristina ao ver aquela cena, não se conteve, começou a chorar, as lagrimas pesadas corriam sua face em uma competição frenética, que nada competia, para ver qual caia mais rápido no chão e ajudaria a criar um novo florescer de uma vida que ainda está por nascer. Abismada, assim encontrava-se Cristina, com os olhos não só em lagrimas, sua respiração ofegante, suas mãos, tremulas, seu coração, apertado.
- Só pode ser ele, eu não acredito, finalmente – enquanto pensava em seus botões, todo seu corpo se contagiava, seus pés cansados faziam uma festa tremenda e chegavam ate mesmo a dar cantadas – naquele momento oportuno – nas unhas.
Correu de maneira atroz em direção a seu alvo, seu augúrio. O mendigo não compreendeu bem a expressão de felicidade de Cristina ao abordá-lo, contudo, ficou muito feliz em ver aquele contagio; fez então, o que só um rei saberia fazer, falou com aquela voz falha e, no entanto, sabia, que aprendeu com a vida:
- Venha fazer um castelo comigo.
Nesse momento Cristina entrou em êxtase, caiu num abismo dentro de sua alma, e tudo parecia brilhante – como estrelas -, seu corpo dizia, você tem tudo, esse é o maior momento de sua vida ate hoje, aproveite-o serenamente. Ela tremeu. Como uma menina levada, jogou um pouco de areia em Rico, o mendigo, que sorriu com seus dentes podres, todavia, que beleza maravilhosa havia naquela arcada, beleza que só um mago, ou um rei, poderiam ver.
Cristina começou então, vagarosamente, e com estilo, a construir aquele castelo ao lado de Rico, fizeram um lindo castelo que, em muito, se parecia com as belezas dos castelos medievais que hoje só vemos nos cinemas. O sol batia as portas do castelo, como que pedindo para entrar, o vento ressoava e levava alguns grãos de área ou alguns tijolos daquele castelo esplendido. O castelo aos poucos começou a falar – afinal, as crianças sempre crescem – e disse em tom afável:
- A vida no castelo é maravilhosa. Abençoados sejam aqueles que fortificaram os meus rizomas.
Rico sorriu. Cristina que ate então via tudo como maravilhoso, que montara aquele tonal com uma vagareza e perfeccionismo inigualáveis, agora começara a ver ressoar daquela fortaleza algo de obscuro, algo de terrível. Tentou se comunicar com rico, que sorria, mas uma afasia repentina não lhe permitia, chegou a um passo de um abismo que parecia sem fim, mas seu corpo ordenou-lhe a volta. Com aquela dificuldade incompreensível finalmente soltou as palavras presas na garganta:
- Rico! O castelo! É um monstro!
Rico começou a rir-se em demasiadamente. “Cristina”, disse ele, não se apoquente, pois tudo que pode ser feito, pode ser desfeito. Chutou o castelo. Os dois sorriram, deram um estalinho, em um gesto de carinho, e começaram a fazer um novo castelo.
Esse novo castelo, como é bom dizer, era maravilhoso e, diferente do outro, tinha mais entradas, mais saídas, mais janelas, e falava ainda mais. Cristina sabia que sua vida mudaria desde então, pois agora, seria aquilo que desejava ser. Sui generis. Original. Então depois de construir mais um castelo e derrubá-lo, despediu-se do seu herói, Rico, e viram-se como iguais.
- Adeus Rico! E sorriu-se.
- Adeus Cristina. Foi maravilhoso encontrá-la. Sempre soube que você conseguiria chegar ate mim.
E finalmente os sapatos disseram:
- Cristina, é hora de irmos. Enquanto falavam, obviamente, eles sorriam..
Lentamente andava, esperando algum augúrio, com a consciência refrescada pelo vento matinal. Cristina aguardava o momento certo, onde as conjunções extemporâneas em flutuações inatas poderiam dizer algo, sobre o porque de tudo aquilo. Andava calmamente pela praia, observando os pedestres, um a um, roupa a roupa, detalhe por detalhe; caminhava e não ignorava nenhuma sensação, sobrelevou-as a um grau altíssimo, tanto a de dentro, como as de fora.
O movimento de Cristina era lento, o pensamento, contudo, era a mil. O seu pensamento, que andava a trem bala, passava por diversas paisagens e conversava com seus vizinhos de cabine, no trem, tal como seu pensamento pensava o tempo todo e também, a todo tempo. Há dezessete horas que o pensamento seguia seu rumo, contudo, ate agora não chegara ate seu destino. Seu destino? Ele mesmo não sabia, tal como, também Cristina não sabia. Podemos dizer que seu destino estava lá, onde tudo se desfaz, e um albatroz o guardava, como um segredo de sete chaves trancadas.
Bem sabemos, que o albatroz come peixes.
- Um dia, poderei eu, infante da delinqüência, marchar pelos cadáveres do meu passado? A vida um dia me dará aquela infância, aquele prazer, de viver em protuberância – de estado de espírito -? Eu me mordo, e assim, estarei evitando, a todo modo, aquele augúrio a que procuro, de tal maneira, que sem ele não posso prosseguir?
A essa altura dos acontecimentos seu chinelo não falava, mas grasnava, e para sobrepor seus berros Cristina fazia-o dançar, para deixá-lo, ao menos, mais feliz. Com efeito, e de maneira bizarra, parecia a dança, essa epigênese dos ditirambos, a produtora do fenômeno tão esperado, o augúrio que tanto ressoava em sua mente, e de maneira ainda mais potente, em sua alma.
O algurio estava ali, a sua frente, concentrado. Ele produzia um castelo de areia, com suas mãos débeis, não de habilidade, mas de qualquer coisa que poderia chamar-se de humana. Sua aparência era grotesca, talvez, por viver na rua, talvez, por escolha própria, ou ainda, poderia ser apenas parte da realidade da alma e do poder de Cristina.
Cristina ao ver aquela cena, não se conteve, começou a chorar, as lagrimas pesadas corriam sua face em uma competição frenética, que nada competia, para ver qual caia mais rápido no chão e ajudaria a criar um novo florescer de uma vida que ainda está por nascer. Abismada, assim encontrava-se Cristina, com os olhos não só em lagrimas, sua respiração ofegante, suas mãos, tremulas, seu coração, apertado.
- Só pode ser ele, eu não acredito, finalmente – enquanto pensava em seus botões, todo seu corpo se contagiava, seus pés cansados faziam uma festa tremenda e chegavam ate mesmo a dar cantadas – naquele momento oportuno – nas unhas.
Correu de maneira atroz em direção a seu alvo, seu augúrio. O mendigo não compreendeu bem a expressão de felicidade de Cristina ao abordá-lo, contudo, ficou muito feliz em ver aquele contagio; fez então, o que só um rei saberia fazer, falou com aquela voz falha e, no entanto, sabia, que aprendeu com a vida:
- Venha fazer um castelo comigo.
Nesse momento Cristina entrou em êxtase, caiu num abismo dentro de sua alma, e tudo parecia brilhante – como estrelas -, seu corpo dizia, você tem tudo, esse é o maior momento de sua vida ate hoje, aproveite-o serenamente. Ela tremeu. Como uma menina levada, jogou um pouco de areia em Rico, o mendigo, que sorriu com seus dentes podres, todavia, que beleza maravilhosa havia naquela arcada, beleza que só um mago, ou um rei, poderiam ver.
Cristina começou então, vagarosamente, e com estilo, a construir aquele castelo ao lado de Rico, fizeram um lindo castelo que, em muito, se parecia com as belezas dos castelos medievais que hoje só vemos nos cinemas. O sol batia as portas do castelo, como que pedindo para entrar, o vento ressoava e levava alguns grãos de área ou alguns tijolos daquele castelo esplendido. O castelo aos poucos começou a falar – afinal, as crianças sempre crescem – e disse em tom afável:
- A vida no castelo é maravilhosa. Abençoados sejam aqueles que fortificaram os meus rizomas.
Rico sorriu. Cristina que ate então via tudo como maravilhoso, que montara aquele tonal com uma vagareza e perfeccionismo inigualáveis, agora começara a ver ressoar daquela fortaleza algo de obscuro, algo de terrível. Tentou se comunicar com rico, que sorria, mas uma afasia repentina não lhe permitia, chegou a um passo de um abismo que parecia sem fim, mas seu corpo ordenou-lhe a volta. Com aquela dificuldade incompreensível finalmente soltou as palavras presas na garganta:
- Rico! O castelo! É um monstro!
Rico começou a rir-se em demasiadamente. “Cristina”, disse ele, não se apoquente, pois tudo que pode ser feito, pode ser desfeito. Chutou o castelo. Os dois sorriram, deram um estalinho, em um gesto de carinho, e começaram a fazer um novo castelo.
Esse novo castelo, como é bom dizer, era maravilhoso e, diferente do outro, tinha mais entradas, mais saídas, mais janelas, e falava ainda mais. Cristina sabia que sua vida mudaria desde então, pois agora, seria aquilo que desejava ser. Sui generis. Original. Então depois de construir mais um castelo e derrubá-lo, despediu-se do seu herói, Rico, e viram-se como iguais.
- Adeus Rico! E sorriu-se.
- Adeus Cristina. Foi maravilhoso encontrá-la. Sempre soube que você conseguiria chegar ate mim.
E finalmente os sapatos disseram:
- Cristina, é hora de irmos. Enquanto falavam, obviamente, eles sorriam..
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