terça-feira, fevereiro 17, 2009

Hipótese Etiológica V.1; RD 2.3


Um velho sábio uma vez me contou uma estória, sobre um rapaz, pois que o sábio queria ser ouvido, e fazer-me ouvir, a estória daquele jovem, tão parecido conosco, da vida moderna. E disse assim:


Era uma vez Ricardo, aos seus 16 anos já começara a apresentar sintomas de depressão, não saia de casa para nada, concentrava suas forças, embora não quisesse, em auto-depreciações aparentemente injustificadas. Já nessa época bebia bastante. Aos 17 começou o uso de cocaína, e em pouco tempo, em conjunção com a explosão do crack nas bocas de fumo da sua cidade, resolveu experimentar o dito cujo, como se fizesse o antigo ditado presentificar-se: “A situação faz o ladrão”.


Ao subir a boca de fumo de um morro popular da Zona Sul, ainda com sua linguagem entrecortada pelos dois mundos, pediu:


- Vê uma pedra de 15, por favor. (Evidentemente seguida de muitas mais)


Ricardo após vender um bocado de coisas de sua casa e ainda sem coragem para cometer outros furtos, resolve, após uma desconstelação temporária de sua não tão pomposa heroicidade, tratar sua já nítida dependência. Após algumas semanas de tratamento, novamente no morro, pede ao vendedor da boca:


- Vê um pó de 10, por favor. (Seguido de alguns mais).


Quando a depressão batia forte, Ricardo ia ao Centro de Atenção onde fazia tratamento pedir ao psiquiatra que lhe atendia:


- Vê um prozac de 20 e um tofranil de 25, por favor. A minha acabou. (Ainda faria vários pedidos deste).

Após o termino do tratamento, sem dúvidas um sucesso, o jovem rapaz saiu pela porta da frente, de peito estufado. Aspirou o ar, como se este fosse puro, e tossiu. Atravessou a rua e quase foi atropelado; do outro lado da calçada olhou com medo e compaixão para garotos jogados pela rua baforando a “pedra” que deixara para trás. Chegando em casa se deparou com o terror da ausência de dinheiro numa sociedade de consumo.


Foi para o mercado e não pensou duas vezes:


- Balconista! Me vê uma Pepsi cola de 3 e um M&M de 5.


Assim contou-me o velho sábio.

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