quinta-feira, novembro 30, 2006

O motoqueiro e o som misterioso


Pegou as malas e saiu. Corajoso como fora há dias atrás, quando pegou todas as contas atrasadas e acendeu aquela fogueira. Ascendeu aquela fogueira de maneira relaxante, como que livrando-se de um excesso de peso que machuca as costas. Deixara que aquelas contas se acumulassem, pela sua própria maneira de viver, consumista sim, mas não submisso. Mais se assemelhava a alguma espécie de parasita estranho, excêntrico, que os anti-corpos ainda desconheciam. Parecia mesmo que ele era mutável, tão mutável que antecipava a si mesmo, e se escondia nas neblinas de sua própria falta de identidade.

Saira do seu quarto imundo para entrar naquela estrada, avermelhada e úmida, e quanto mais sua moto antiga seguia por aquelas vias pouco usadas, mais parecia aumentar a chuva. Um barulho, como que um gemido divino o perseguira, mas ele não sabia bem do que se tratava, pensou primeiro que podia ser sua moto, mas logo desistiu de sua hipótese, pois o som era muito disperso, estranho e atraente.

Luis sentiu-se atraído por aquele som. Seu percurso perambulante agora tinha um rumo, encontrar a origem daquele som tão belo, indistinguível e difuso como aquele próprio lugar. Nestas situações que inspiram a mente filosófica, ascendeu um baseado e começou a imaginar como seria se ele fosse apenas uma história contada, de geração em geração, sobre um maluco que escutava os sons da vida, e surfava com sua moto pelos túneis da realidade. A vida para ele era como uma majestade, não existiam bifurcações naquela estrada, ela levava a um lugar só, como que por desígnio divino.

O eco do espaço juntava-se a fumaça que saia da boca de Luis, e encontrava-se com os pequenos matagais nos cantos da estrada avermelhada. Cada vez que a fumaça encostava-se aos matagais, a estrada dava uma tremida, como que tivesse vida, como fosse um pequeno terremoto. E se a estrada estivesse se mexendo, e Luis apenas estivesse parado, o tempo todo? Pensamentos estranhos vagavam por aquelas terras inóspitas.

Durante sua viajem, que já não se sabia se era real ou fantasiada, começaram a aparecer um grande número de motos, com o mesmo destino de Luis, com seu rumo, atrás do som sensual e chamativo, como o de uma sereia mais bela que as aquarelas de Deus. Ele havia se perguntando sobre aquela situação: O que acontecera? Por que tantas motos? Por que essa dis-puta? O mar de perguntas vinha sem as ondas de resposta. Fez então o que qualquer ser humano normal faria nessas situações: Acelerou sua moto e começou a corrida.

Passados alguns minutos já havia despistado aqueles idiotas. Passou a mão no rosto e enxugou os olhos da água que caia, que nessa hora já era excessiva. O som aumentava e tornava-se cada vez mais perceptível, era uma voz feminina, um som de gemido, de prazer. Acelerou então ainda mais a sua moto velha e suja de poeira, tirou seu casaco com seus patches do Motorhead e deixou jogado nas costas. Aquele local começara a ficar mais escuro, mas algo já se pronunciava a sua frente.

Era uma mulher de olhos castanho-mel, mas não era isso que chamava mais atenção e sim sua nudez radical. Ela era o núcleo de todo aquele mundo estranho. O ponto visceral de toda aquela espécie de realidade, coisa que ficara evidente para ele, apenas por uma questão sensitiva. Parou então sua moto suja e dura, que misturava em sua cor poeirenta as cores das cervejas e vinhos de terceira ali derramados. Pegou uma rosa de tijolos e deu a mulher da nudez radical.

Ela olhou seu rosto, segurou com força suas bochechas e ficou examinando. Foram momentos de tensão, indescritíveis por palavras. Então segurou seu pênis com a mesma força e intensidade e falou algo em seu ouvido, algo que até hoje não se sabe, mas que fez Luis suar como uma lebre no cio. O volume e fluxo de sangue no corpo do Luis mudaram totalmente de foco, da defesa para o ataque, e concentraram-se no membro peniano.

Ele então segurou aquele peito maravilhoso com uma das mãos, enquanto a outra passava pelas pernas e subia, até encontrar o ponto de ebulição, nem em cima, nem em baixo, mas no meio, aquele que entre extremidades faz tremer a terra e cair um dilúvio. Ela tremeu com o leve tocar do dedo indicador de Luis em seu clitóris, a passagem foi tão suave como uma nuvem que desliza empurrada pelo leve vendaval, suave como uma pluma.

A chuva intensificara-se ao mesmo tempo em que aumentava o som externo do gemido divino e abria-se um imenso sorriso no rosto da mulher da nudez radical. Ela então tomou a dianteira e empurrou Luiz para o chão vermelho e macio daquela realidade na qual se encontravam. Um leve mexer de sobrancelhas dizia a Luis que eles não tinham tempo... Ele avistou então, enquanto aquela maravilhosa vagina cobria amorosamente seu pênis, um mar de motoqueiros devassos fãs de Judas Priest correndo freneticamente em sua direção, como se tudo aquilo tivesse haver com a vida e a morte.

Foi então que ele se lembrou do que a mulher da nudez radical dissera em seu ouvido, e percebeu como tudo aquilo era de fato importante. Nesse momento toda terra parou e progrediu ao corpo de Luis e da Mulher da nudez radical que se juntaram numa realidade onde não havia mais distinção entre ele e ela, terra e mar, corpo e alma.
Tudo se tornara preto, como o breu da madrugada de uma cidade sem lâmpadas, como o inicio e o fim dos tempos. O silencio absoluto precedeu o auge do som, do calor e da chuva. Corpos relaxados e sensação de bem-estar. A flor de tijolos se abre, e um ponto de luz sai de lá.

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