O encontro entre a ordem, a harmonia, a lógica, a causalidade e o imprevisível, o sexual, o instintual na antiga Grécia antiga se davam no encontro entre a arte e a não-arte, a primeira representada por Apolo, deus da beleza (beleza entendida como os pontos acima mencionados) e Dionisio deus do vinho, do sexual, da falta de consciência, do brutal, do indominável. Era nesse encontro que se realizava a tragédia Grega que depois foi negada por Sócrates e Platão como um espetáculo não racional, logo, sem sentido.
Essa negação representa muito bem o que os filósofos supracitados desejavam, o encontro ao belo em si, ao real, a verdade, ao bom, o que levou a unilateralidade da procura do bem no Cristianismo (platonismo do povo nas palavras de Nietzsche) como ja foi dito em outros posts, apenas para sustentar o argumento re-lembro Santo Augustinho, que como Sócrates e Platão, diziam que o mal não existe per si e sim como ausência de bem (privatio boni).
Nietzsche ( 1844-1900 ) muito falava sobre a tragédia Grega –e sobre o período helênico-, porém criticando esse "principais" pensadores Gregos. Todavia, nem todos estavam em sua lista de fogo¹, um ótimo exemplo seria o próprio Heraclito (filosofo original ou pré-sócratico) que influenciou bastante o próprio Nietzsche com sua idéia de Devir e talvez mesmo na idéia dos opostos.
O filosofo Soren Kiekgaard (1813-1855) ja falava de três fases distintas da existência, a fase estética, a fase ética e a fase religiosa e uma pessoa só mudaria de uma "fase" para outra através de um salto, de uma de-cisão, um acarretar-se com sua responsabilidade, ou seja, caminharia para sua liberdade a qual só poderia ser alcançada na fase religiosa. A fase estética é a qual Nietzsche considerou sendo a única realidade, ja que havia a impossibilidade de se chegar a verdade e está servia de argumento para tornar o homem um ser submisso e em negação ao que ele chamou de Vontade de Potência.
A fase estética serviu para os propósitos de Nietzsche que desejava ser uma antítese do paradigma racionalista e domesticador de sua época, diria-se de uma intenção Apolinea, negando a natureza caótica, não linear e não possível de ser comensurada em modelos meta físicos. A fase estética de Kiekgaard (diferente da de Nietzsche porém com vários paralelos, ex: a não aceitação das normas sociais) ao qual o próprio Kiekgaard passou era uma fase onde só se buscava o belo, as mulheres, etc.. Todo relacionamento era apenas em busca ao sexo e quando conseguia-se o objetivo deixava-se a mulher só e chegava-se a dizer com a mulher aos prantos: "isto foi para seu bem, assim aprendes um pouco mais de teus sentimentos." Aqui também podemos notar a idéia de que a dor gera força e o mal é também bem.
A fase ética ja seriam uma inter-relação externo-interno superando o "teatro" (termo que o próprio Kiekgaard usa) da fase estética –totalmente voltado ao externo-, na fase ética se reconheceriam as normas sociais, poderia-se ter uma família, um emprego, e o indivíduo começa a se conhecer subjetivamente porém na procura por ser si próprio quer se considerar totalmente independente do "criador", talvez seria algo como Lucifer –a criação que enfrenta o criador- ou pode-se ignorar totalmente esses assuntos nessa fase.
A fase final é a fase da síntese, é a fase onde o ser ultrapassa as regras morais. Supera, por aceitar, a dualidade inerente ao ser humano que é ao mesmo tempo finito e infinito, criador e criatura, eterno e temporal, possibilidade e necessidade. Essa síntese relembra bastante o modelo Junguiano de processo de individuação ao qual o indivíduo ruma ao seu self ingrando conteúdos simbolicos e opostos, ou seja, como em Kiekgaard, faz isso através de sinteses.
Para Kiekgaard ai há um salto qualitativo imenso, em direção a fé. Fé para Kiekgaard seria aceitar incondicionalmente as vontades de deus, poderíamos dar o exemplo no Cristianismo de Jó, que foi testado de todas as formas pelo Capeta e obrigado a sacrificar seu filho Abraão em nome de Deus e pelo próprio Deus numa brincadeira com o Diabo. Ou seja, Jó quando ouviu Deus aceitou enfrentar todas as regras, morais, imposições religiosas, ouvindo o que Deus lhe dizia, ele foi em frente apesar de questionar várias vezes o próprio Deus (aqui Deus mostrada sua "outra face").
Cabe aqui pensarmos sobre que deus Kiekgaard falava, em sua época Kiekgaard por sorte não foi morto –apesar de muitos quererem faze-lo- pois sua concepção de deus era um ser imaterial ao qual nós seriamos uma parte deste "ser imensurável, incomunicável"...ai lembremos do deus Hindu que seria incomunicável, imensurável e Vishnu criador de todas as coisas, seria sua manifestação direta e criador de todos os outros deuses, inclusive de Shiva. Esse deus acabou por se transformar em nossa Vontade de Aliester Crowley, de Schopenhauer, o Nada de Satre, etc...
Este deus se transformou em nossa vontade pois a idéia seria que nos somos fragmentos de deus portanto nossa força interna e vontade interna seriam "vontades divinas", o nosso rumo ao interno seria nosso rumo não só ao encontro de nós mesmos mas também no encontro do criador.
As Vontades (que não são apenas meros desejos ou vontade de) se transformaram então em noções internas, Jung com seu modelo de Self "entenderá" que esse ser de Vontade é um ser de totalidade como Kiekgaard, porém, sua no Self a totalidade não é interna e sim interna e externa. O homem deve aceitar o que o seu si-mesmo ou self "diz" para seu ego, deve compreender a sua "sombra" e a sua "luz" para ultrapassar como na tragédia Grega o simples Dionisíaco ou Apolíneo. Para Jung, o homem deve escutar essas mensagem de si, observar os símbolos que brotam em sua existência, sejam eles manifestos no sonho, na cidade, no campo, no outro, etc..
A origem etimológica da palavra Símbolo é Sym + Balein, sym significa amalgamar e Bailen que significa em rumo á, uma meta. Os Chineses utilizavam a palavra symbailen para significar a união dos dois lados opostos de uma mesma moeda. Do mesmo modo então as sínteses Kiekgaard estarão presentes em Jung, apesar dos diferentes modos, essa questão das sínteses como "evolução" na vida do sujeito re-lembrará Hegel e sua idéia de que toda tese gera uma antítese que gerará sua superação, no caso, uma síntese. Isso mostra o caráter teleológico da teoria Junguiana e do Existencialismo enquanto a vida sendo meta há. Como diriam Niels Bohr e nosso amigo Kiekgaard:
"O sentido da vida consiste em que não tem nenhum sentido dizer que a vida não tem sentido." - Niels Bohr (1885-1962)
"A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida olhando-se para a frente." - Kiekgaard
¹ - Aqui a ironia sobre a cosmogonia de Heraclito que se derivava do fogo.
Referências :
Curso de filosofia : Cap 11e 12
Apostila de Epistemologia, Elizabeth C. Melo
Que ajudaram por leituras anteriores :
O homem e seus símbolos, C.G.Jung
Os Pensadores, Platão
Fundamentos da Psicologia Analítica, C.G.Jung
Revista viver mente e cérebro: memórias da psicanalise ed.2
Além do bem e do mal, Nietzsche
Acho que é isso, falowz coleguinhas!
quarta-feira, março 23, 2005
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