segunda-feira, novembro 07, 2005

Um pouco de Nietzsche



Ofereço um pouco de Nietzsche aos amigos. Enquanto eu re-olhava frases de seus livros, um novo encantamento bateu e resolvi, mister que sou, colocar algumas frases aqui. Mas antes apresento algumas considerações.

Muitos se enganam ainda em relação a Nietzsche na idéia de que ele fosse um pensador egoísta, contudo, muito pelo contrario, ele foi um pensador da natureza, da ars erótica, ou seja, da alegria e do prazer – não confundir com o otimismo. Nietzsche estava alem do bem e do mal, ou seja, acreditava que a natureza proporcionava a própria superação de si mesma, uma superação do homem, ela não tinha moral e por isso não era fraca. Tirar o mal e esconder-se dele é cair em um remédio que provoca a fraqueza e conseqüentemente um o fortalecimento do instinto de rebanho, de reificar-se na mesmice, estratificar-se, paralisar-se diante da existência. Fugir ao mal como nossas tradições eclesiásticas ocidentais fazem é querer uma harmonia que não permite o crescimento do ser, é fugir da vida. Ora, bem mais fácil é criar seres de rebanho do que existir com seres fortes, que se proponham a mudar e a tocar nas feridas das sociedades e dos seres humanos que nela habitam, tanto assim o é, que já temos nossa justificação dos espíritos dominantes para tal feito. Vejam bem, eu disse espíritos dominantes e não espíritos “nobres” (para usar um termo nietzschano).

A idéia dos ditirambos (rituais dionisíacos) onde a embriaguez do vinho, as orgias e a musica tomam o ambiente, é encontrar, para Nietzsche, o local onde o ser não mais é sujeito ou subjetividade, “sua subjetividade foi abandonada pelo artista no processo dionisíaco; a imagem que então lhe mostra sua unidade com o coração do mundo é imaginação”. A dor e a ruptura com a estética. Não, Nietzsche não é faz uma filosofia puramente estética... estética seria se fosse apolínea, do nosso querido deus Apolo, pois ja dizia “Apolo para mim se apresenta como o gênio transfigurado do principia individuationis, pelo qual se pode atingir a libertação, na aparência, enquanto que, sob o místico brado de jubilo de Dionísio, se quebra o grilhão da individualidade, estando livre o caminho que nos leva as mães do ser, ao núcleo mais interno de todas as coisas”.

Para contextualizar Dionísio, lembremos que ele foi filho de Zeus e de Semele, princesa de Tebas. Dionísio sofreu com a fúria da mulher de Zeus, Hera, que com ódio pela traição (constante por assim dizer) do marido tentou matar Dionísio, na verdade dentro da vários feitos ela conseguiu a morte de Semele, mas Dionísio foi arranco por Hermes da barriga de Semele e costurado nas coxas de Zeus onde lá terminou sua gestação e nasceu vivo e normal. Ainda poderíamos continuar contanto a outra desgraça de Dionísio por causa de Hera, mas vamos poupar-lhes. Apenas é interessante dizer que Dionísio não foi morar a priori do lado dos deuses indo sim morar nas florestas junto com os satiros, os loucos e os animais. Dionísio deu a humanidade o vinho e suas bênçãos, e concedeu ao êxtase da embriaguez a redenção espiritual e todos que decidiam abandonar a renunciar a riqueza e ao poder material. No final, Dionísio ainda voltaria ao Olimpo, habitando ao lado de Zeus.

Voltando a Nietzsche, aqui esta um ponto onde sua critica ao otimismo na arte se estabelece “A dialética otimista afugenta com açoite de seus silogismos a musica da tragédia, essência que se pode interpretar somente como uma configuração de estados dionisíacos, como simbolizaçao visivel da musica, como o mundo de sonho da embriaguez dionisíaca”. E aponta o surgimento deste mal no próprio surgir da individualidade, “temos todos os itens de uma concepção pessimista e melancólica do mundo e, ao lado desta a doutrina dos mistérios da tragédia, o conhecimento essencial da unidade de todo o existente, a consideraçao da individualidade como a razão primeira do mal, a arte como a esperança alegre de que o grilhao da individualidade possa ser quebrado, como pressagio de unidade restabelecida”.

Nesta luta entre individualidade, em especial da razão, contra o instinto e o mundo (poderiamos dizer, da vontade da vontade) Nietzsche nos fala sobre Sócrates “secretamente, porem, em sua intimidade riu também de si, perscrutando sua consciência e seu foto intimo, encontrava em si mesmo a mesma torpeza e a mesma impotência. Contudo, por que dizia, ainda assim, que devia renunciar aos instintos por isso? Aos instintos e á razão deve-se educar, deve-se obedecer aos instintos para convencer a razão que os apóie com bons argumentos. Este foi, em verdade, o problema daquele grande e misterioso irônico. Reduziu sua consciência a contentar-se com uma espécie de engano voluntário, na verdade, havia posto a lume o caráter irracional dos juízos morais.” Depois segue mostrando o caminho percorrido por Platão para defender o razao e o bem que permaneceram por tanto tempo em nossa cultura, passando pelo cristianismo e por descartes.

Deixemos ainda mais uma passagem do filosofo : “Se a tragédia antiga foi obrigada a sair de seu trilho em virtude do impulso dialético ao saber e ao otimismo da ciência, então servira isto para a dedução de uma luta eterna entre o conceito teórico e o conceito trágico do universo; e somente depois de conduzido o espírito da ciência ate os seus limites, sendo extinta sua exigência de validez universal por comprovancia daqueles limites, poeriamos contar com o renascimento da tragédia”.

“Decido a todos os partidos. – Um pastor sempre tem necessidade de um carneiro que sirva de guia ao rebanho – ou então é constrangido a fazer-se de carneiro”.

“O cristianismo perverteu a Eros, esta não morreu, mas degenerou-se, tornou-se vicio”.

“Acerca da “verdade” ninguém ate agora foi suficientemente verdadeiro”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito do texto. Estou lendo a Origem da Tragédia, e é um livro que tem uma leitura razoavelmente difícil, e mais do que isso, possui muitas e muitas informações preciosíssimas em cada página. Gosto muito de Nietzsche, mas não sei se concordo totalmente com ele =)