sábado, abril 15, 2006

O executivo e a psicoterapia.


Sobre as cinzentas nuvens de domingo, andava com a cabeça voltada ao chão, um inferno e uma maldição. Não sabia bem como se enfurnara numa tal situação, de desespero e depressão, só bem sabia, que assim era e assim seria. Tomou alguns calmantes, enquanto olhava para o chão sujo de uma cidade grande, e continuou seu caminho obscuro pela cidade ameaçadora. Prédios altos ofuscavam sua respiração pálida, uma tremedeira em suas pernas mostrava sua neurose manifesta.

Nalberto prosseguia, com seu dinheiro no bolso, e sua infelicidade na alma. Era muito rico, de fato, não conseguia parar de ganhar dinheiro. Sentia o cheiro de uma boa transação e não podia evitar ganhar aquele dinheiro certo. Dessa forma, Nalberto tornou-se rico. Mas, todo aquele dinheiro, em nada era aproveitado, enfurnara-se em todo seu legado, de ser um pobre coitado. Só sabia ganhar e ganhar, ambiciosamente.

No final da rua cheirou o destino. Algo lhe contara que era ali, naquela drogaria a sua esquerda, que encontraria o que desejava. Entrara despretensiosamente naquela drogaria, afinal, nem bem sabia o que queria, naquela feira de produtos. Avistou e chamou o farmacêutico senhor balconista. “Meu bom velho” disse ele, sei que aqui vocês tem algo para mim! O farmacêutico, muito sábio - de tantos anos de alquimia - não se fez de rogado, disse logo, para que Nalberto se fizesse ouvidos: “Temos sim meu bom senhor! Ótimos produtos para as cabeleiras!”. E prosseguiu:

“O que pode haver com seus cabelos, meu rico senhor? A eles falta brilho, apesar deu poder notar, tão claramente, que é tratado com o melhor dos produtos do mercado”.
“Eu não bem sei, meu velho balconista” – respondeu Nalberto, “essas coisas terríveis sempre me acompanharam, se bem me entende”.

O velho balconista então foi atrás das escuras paredes e voltou, da escuridão, com um vidro verde. Era um condicionador. O velho então disse: “Filho, passe isto para que sua dor seja dominada e então você poderá compreender porque teu cabelo não brilha”. Nalberto agradeceu o balconista farmacêutico e partiu da loja, com um pingo de esperança. Quando saiu, percebeu que as coisas começaram a se modificar, as cores começaram a ficar um pouco diferentes. Não ligou muito e foi para casa utilizar seu condicionador verde.

Utilizou-o. O condicionador verde tirou a amargura profunda do coração de Nalberto, que sentiu que pela primeira vez tinha a possibilidade de decidir entre: ficar na tristeza ou tentar uma vida nova. Tudo ficara de tal modo colorido, que nem mesmo importava muito se aquilo era uma escolha. Nalberto chamou o condicionador de “fada verde”, pois aquilo alterara sua visão de tal modo que, as vezes, parecia até uma linda alucinação.

Nalberto foi andando extasiado pela cidade até que viu uma flor entre aqueles prédios gigantescos e tristonhos. Era uma flor linda, violeta. Nalberto então descobriu que deveria ir para o campo, ligou para seu trabalho e desmarcou todos seus compromissos. Pegou algum dinheiro no banco, comprou uma bicicleta e foi caminhando até o interior. Todos falavam: “Pobre Nalberto, ficou louco” ou “Como uma pessoa tão rica pode enlouquecer assim?”.

Já no interior, Nalberto compreendeu a beleza da vida. Viu, como nunca, a textura de tudo, a sombra maravilhosa de todas as coisas... o mundo, ora, o mundo, tornara-se sagrado! Sacro-santo! O mais estranho ainda estava porvir. Nalberto chegara a uma montanha onde viu a coisa mais maravilhosa de sua vida, um lindo Pegasus. De inicio, ficou assustadíssimo, mas aos poucos foi se encantando cada vez mais. Subiu nele e começaram a voar por aquele mar celeste, a epifania do destino tornada real, no agora.

Impossível seria transcrever o êxtase de Nalberto, era felicidade e nada mais, o que sentia. Depois de sentir a liberdade, encontraria ainda, naquelas regiões tão esquizofrênicas a um cidadão da cidade grande, o grande amor da sua vida, uma menina chamada Leia. Nalberto quando a viu sentiu seu cheiro. Sabia que era o amor de sua vida, mas não apenas, sentiu seu tato, tocou-lhe o rosto e sentiu aquele momento maravilhoso. Nalberto finalmente aprendeu o que era a felicidade e a liberdade.

Nenhum comentário: