segunda-feira, dezembro 11, 2006

Conversas: Da Repetição a Criação.


PARTE II: Inteligência Artificial e a Lógica da Representação

As teorias de Piaget e da Gestalt podem ser chamadas de cognitivismo e, na atualidade, encontrarão novas teorias “semelhantes” a elas como o estudo cognitivo da inteligência artificial (I.A). Podemos, primeiramente, falar de uma I.A forte e outra fraca, a primeira se refere a um isomorfismo entre a cognição entre humanos e computadores e a segunda sugere uma equivalência fraca entre ambos (apenas mesmos grafos e resultados).

Na I.A forte podemos perceber, logo de cara, uma dissociação da percepção com a consciência e com a experiência, isto é, falamos de um modelo formal invariante de cognição. Formas duras, impermeáveis ao intempestivo, a experiência. Pensamos, seguindo essa lógica, que a maquina pode pensar, além de possuir memória. Qualquer critica a esse modelo não pode negar que a maquina possui um conjunto de signos armazenados, seguindo sua lógica binária, onde a lógica 0-1 corresponde à abertura e ao fechamento de circuitos eletrônicos. Representar signos não significa, entretanto, inteligência.

A I.A parece buscar Kant para seu estudo (aproximação estudada por Joelle Proust), procurando conter todas as possibilidades de cognição dentro de dois eixos: O real e o possível, sendo o possível o plano das condições a priori e o real o plano dos conhecimentos efetivos. Nesse estudo não existe lugar para a invenção, já que todo real é limitado pelo a priori, existe uma estrutura invariável assim como as categorias a priori em Kant. A idéia de maquina universal, com em Turing . Se os estudiosos da I.A forte acreditam na inteligência dos computadores, talvez se deva a um erro na conceituação de inteligência. Jogar xadrez, por exemplo, ainda não é inteligência, pois todos os movimentos são passiveis de serem armazenados num conjunto de representações inertes, i.é, num conjunto de signos limitados. A inteligência, ao contrário, se manifesta no cotidiano, em situações onde somos levados a todo tipo de incertezas, ao intempestivo (de fato, ela pode se apresentar de muitas formas, desde formas intelectuais, a sensuais, sentimentais ou intuitivas). No cotidiano, não basta um conjunto de repertórios condicionados, pois o tempo todo somos levados a desbravar por novos caminhos e nos adaptarmos, ou não, a novas situações.

Cabe, portanto, uma discussão epistemológica. Segundo Varela as teorias da representação, como o caso da I.A, se dividem em duas posições: o realismo e o idealismo. O realismo afirma a existência dos universais antes da coisa (ante rem) e que os conceitos gerais existem em si mesmos, a modo das idéias de Platão (Jung, Tipos Psicológicos, 1991) já o idealismo fundamenta a representação na unidade do sujeito cognoscente (Varela). A I.A segue, como mostramos, um modelo realista, só que não o realismo filosófico, mas um realismo cognitivo, pois tem interesse nas representações que dependem da interação com o “ambiente”. O realismo cognitivo permanece, no entanto, no espaço intermediário (após conceituaremos as diferenças entre intermediação e mediação) entre sujeito e objeto tratando ambos como espécies de mônadas representacionais (lembrando Leibniz), ou seja, regiões pré-dadas em “relação”.

Se conhecer fosse de fato representar, estaríamos num mundo atemporal, onde existiria apenas re-cognição, ou seja, apenas re-visão “do mesmo”. Aquilo que se repetiria eternamente, a mesma imagem, o mesmo som, o mesmo cheiro, o mesmo caixão.

Não gostaria de me estender, apenas coloco então que muitas criticas poderiam se apresentar a tese da I.A dura, por exemplo, ao conceito de informação (em contraponto à cognição inventiva e a noção de agenciamento). Seria também importante um estudo sobre a aprendizagem, que não a limitasse ao famoso “decorar matérias” e resolver problemas já dados. Aprender é antes des-cobrir um outro, agenciar-se com ele (usando os termos deleuzianos) e descobrir onde há afetação, onde a um novo descobrimento de si e do mundo. Para mais informações sobre a I.A vejam o livro de Levy “As tecnologias da inteligência”, assim como Kastrup: “A invenção de si e do mundo” e “Maquinas Cognitivas: da cibernética à autopoeise”. É, eu também tenho que ver muita coisa..

[1] - Essa conceituação é feita por Z. Phylyshyn.
[2] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_de_Turing_universal

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