sexta-feira, outubro 07, 2005

Sobre a etica e sobre a moral

O criterio da ação ética não pode mais consistir no fato de que aquilo que é considerado bom tome caráter de um imperativo categorico; inversamente, o que é considerado mau nao deve ser evitado de um modo absoluto. Quando reconhecemos a realidade do mal, o bem toma
necessariamente um caráter relativo e aparece como uma das metades de dois termos opostos. O mesmo ocorre com o mal. Os dois constituem, juntamente, um todo paradoxal. Praticamente isto significa que tanto o bem como o mal perderam o caráter absoluto e que somos obrigados a tomar consciência de que representam julgamentos.

A imperfeição de todo julgamento faz-nos, entretanto, perguntar se nossa opnião, em cada caso particular, é justa. Podemos sucumbir a um julgamento falso mas isso so concerne senão a um problema ético, a medida que nos sentimos incertos de nossa apreciação moral. Mas nem por
isso devemos deixar de tomar nossa decisões sobre o plano ético. A relatividade do "bem" e do "mal" ou do mau não significa de forma alguma que essas categorias nao sejam validas ou não existam. O julgamento moral existe sempre e em toda parte, com suas consequências
caracteristicas. Como ja assinalei, uma injustiça cometida, ou somente projetada, ou ainda pensada, vingar-se-á de nossa alma, no passado como no futuro, qualquer que seja o curso do mundo. São os conteúdos do julgamento que mudam, submetidos as condições de tempo e de
lugar, e em consequencia destes. A apreciação moral baseia-se sempre no codigo de costumes, que parece seguro e nos instiga a discernir o bem do mal. Mas quando sabemos com essa base é fragil, a deciçao ética torna-se um ato criador subjetivo, sobre o que não podemos estar
certos - senão Deo concedente (com a graça de Deus) - e isso quer dizer que necessitamos de um impulso espontaneo e decisivo que emana do inconsciente. A ética, o ato de decidir entre o bem e o mal, não esta implicada em seu principio; apenas, se tornou mais dificil para nos. Nada pode poupar-nos do tormento da decisao ética. Mas por mais rude que isto possa parecer, é necessario; e, certas circustancias, ter a liberdade de evitar o que é reconhecido como moralmente bom, e fazer o que é estigmatizado como mal, se a decisao ética o exigir.Em outra
palavras: é necessario não subumbir a qualquer um dos dois termos opostos . Contra a unilateralidade dos opostos, temos sob uma forma moral, o neti-neti (nem isto, nem aquilo) da filosofia hindu. Nesta perspectiva, o codigo moral será, em certos casos, irremediavelmente abolido, e a decisao etica dependerá do individuo. Isto não representa nada de novo, pois ja significou, no correr dos tempos pré-psicologicos, o que se chama de conflito de deveres.

Carl Gustav Jung; Sonhos, Memorias e Reflexoes pg. 284-285

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