terça-feira, agosto 16, 2005

Um pouco de Física.

"Não colocamos nossa confiança,
Na virgem ou na pomba,
Nosso método é ciência,
Nosso objetivo é religião" Aliester Crowley

ERP e o Teorema de Bell

A demonstração Einstein-Rosen-Podolsky (ERP) indicou que, se a mecânica quântica é verdadeira, algumas particulas estão em contato instantâneo, mesmo que elas se encontrem em extremidades opostas do universo. (Isso só é verdadeiro para partículas que ja tiveram contato físico, mas trata-se de um ponto técnico que não tem importância neste contexto.) O problema dessa demonstração ERP é que:

a - Tal comunicação instantânea através de galáxias não tem uma explicação física e é difícil pensar a respeito do fato;

b - representando o problema principal, tal comunicação instantânea é proibida pela relatividade espacial que não permite efeitos instantâneos, sendo tudo limitado pela velocidade da luz.

O objetivo da ERP era um reductio ad absurdum (redução ao absurdo) da teoria quântica. A ERP é deduzida por matemática rigorosa, a partir da mecânica quântica, e parece ser falsa pelos dois motivos mencionados no paragrafo anterior. Na matemática, se a conclusão é falsa, deduz-se que o antecedente seja falso. Por conseguinte, a mecânica quântica é falsa.

Para Einstein, Rosen e Podolsky, esse era um pensamento feliz, pois os três tinham sérias reservas a respeito do elemento aleatório implícito em todas as equações quânticas - reservas resumidas no famoso pensamento de Einstein "Deus não joga dados".

Que pena, ERP foi promulgada em 1935 e, a partir de então - o maior período de trabalho exprimental na história da Física, além de com mais físicos vivos hoje do que em toda a história-, tudo indica que a mecânica quântica definitivamente não é falsa. Funciona maravilhosamente bem. Por conseguinte, se o antecedente é verdadeiro, a conclusão é verdadeira e, portanto, os efeitos ERP devem existir - mesmo que eles sejam proibidos pela relatividade espacial.

Agora, os físicos não estão particularmente satisfeitos com essa conclusão, pois desejariam preservar tanto a mecânica quântica quanto a relatividade espacial. Algo deve ser feito a respeito do paradoxo ERP - mas o que?

Em 1964, o Teorema de Bell sugeriu três possíveis interpretações do efeito ERP e todas elas controversas. O Teorema de Bell parece sólido como aço (pelo menos em 1977), portanto, pelo menos uma das alternativas deve ser incluida no novo paradigma, quando a Física finalmente apresentará um novo paradigma. Vamos ver quais são as alternativas...

a) a mecânica quântica fracassa.... e/ ou

b) a objetividade fracassa... e/ou

c) a localidade fracassa...

Se a mecânica quântica fracassa, ela fracassará radical e totalmente. A experiência Clauser (Berkley, 1974) demonstra que tentar redefinir as conexões quânticas não contornaria o Teorema de Bell, portanto, a teoria quântica como é conhecida deve ser revolucionada completamente se formos encetar esse caminho. Isso significa que estaremos por presenciar uma maior revisão epistemológica do que aquela relacionada com a própria relatividade e a própria teoria quântica. Provavelmente, estaremos presenciando a maior redefinição da realidade na história da ciência. Esse chocante acontecimento deverá ser a maior revolução da história ciêntifica, pois quase tudo na Física quântica moderna depende da verdade da teoria quântica. Desistir da mecânica quântica equivale à desistência de Deus na religiosidade de uma pessoa. Todas as coisas - e não só algumas coisas - mudarão em nossa mente. Saul-Paul Sirag resume essa alternativa como "um novo jogo de bola".

e/ou

Se a objetividade fracassa, deveremos presenciar uma revolução de pensamento igualmente gigantesca, mas podemos pelo menos sugerir a forma que assumirá. A objetividade, nesse contexto, significa a doutrina de que o universo existe independente das idéias ou da vontade do pesquisador. Dois modelos foram desenvolvidos sem a doutrina de objetividade. O primeiro é o "universo participativo" ou o "universo criado pelo observador", do Prémio Novel Werner Heisenberg e do Dr.John A. Wheelerm, de Princeton. Na versão de Heisenberg, eventos quânticos existem potencialmente antes do dimensionamento humano e na realidade somente depois que tal dimensionamento ocorreu. Heisenberg diz que a "estranheza" é a característica da potentia (do potencial); o tempo, aqui, flui para frente e para trás, e nenhuma lei comum da Física se aplica neste caso. Aquelas leis entram em funcionamento somente depois que a intervenção humana (dimensionalmente) ocorra.

e/ou

O universo criado pelo "observador" de Wheeler, como aquele de Heisenberg, descreve a "realidade" como o resultado da interação humana-quântica, mas acrescenta a possibilidade de que as transmissões ERP possam realizar esse resultado até antes de o dimensionamento ser efetuado. É claro que isso leva diretamente à possibilidade da psicocinese (magia..) e poderia explicar todos os tipos os tipos de eventos estranhos, desde os "milagres" religiosos até a habilidade de Uri Geller na transformação de metais, permitindo a alteração de seu estado físico, mudando a sua forma. Uma pequena extenção dessa hipótese nos permitirá considerar todos os meus 23 como o resultado de interações quânticas entre o meu cérebro e os eventos interceptados desde o meu interesse pelo número 23. Estamos muito perto da "Teia" de Jano Watt e do velho sistema de crença xâmancia que Sir James Frazer denominou de "lei de contágio". Crowley a chamou de "conexão mágica".

e/ou

O segundo modelo não-objetivo é a idéia de mundos paralelos, extensamente usada pelos autores de ficção científica. Uma formulação matemática dessa idéia foi desenvolvida por Wheeler, junto com Everett e Graham. Isso leva ao conceito de que há 10 elevado a 100 universos existindo "simlutaneamente" em diversas dimensões. (10 elevado a 100 é uma estimativa, mas significa dez elevado a centésima potência (um número inimaginável) como um valor mínimo de universos). Cada um desses universos é tão complexo e tão extenso no tempo e no espaço quanto o nosso, e nós existimos em cada um deles, mas de maneiras diferentes.

Em outras palavras, tudo aquilo que pode acontecer, acontece realmente. Assim, apenas Saul-Paul Sirag explica esse modelo : "No universo ao lado, eu ainda sou um físico, mas trabalhando em outra área de pesquisa. Em outrouniverso sou um ator que abandonou a Física sem nunca mais voltar a ela. Em outro universo ainda, morri em um campo de concentração e não existo mais no "presente".

A maioria dos físicos não pode considerar esse modelo seriamente e é comentando que Wheeler, Everett e Graham, que o criaram, também não acreditam nele. Entretanto, é uma interpretação legítima do problema levantado pelo Teorema de Bell.

e/ou

Se a localidade fracassa, encontramo-nos em um predicamento interessante. A localidade tem um significado um tanto quanto técnico na física, mas basicamente podemos pensar nela desta forma: o universo local, para qualquer ser inteligente, é limitado pela velocidade da luz. Isso quer dizer que qualquer sinal recebido viaja a uma velocidade igual ou menor do que a velocidade da luz. Esse universo "local" - tudo que podemos detectar movendo-se dentro da limitação da velocidade da luz -, de acordo com a relatividade Espacial, é o único universo. Um universo não-local seria um universo além da imaginação. Pela relatividade especial, esse universo não-local é metafísico e "insignificante", no sentido de que, mesmo que existisse, seria impossível detectá-lo.

Entretanto, se interpretarmos ERP e o Teorema de Bell para significar que os eventos quânticos, apesar de tudo, estejam em comunicação instantânea, poderemos então entrar em contato com um universo não-local por intermédio da teia de comunicação quântica. Isso não é diferente do que dizer que podemos então estar na Califórnia e no Arizona ao mesmo tempo, ou então na Califórnia e no sistema da dupla estrela de Sírius ao mesmo tempo, ou ainda no passado, no presente e no futuro "simulaneamente".

Uma forma possível de olhar para esse pensamento incompreensível foi desenvolvida pelo Dr.Jack Sarfatti, que presume que as transmissões ERP (mais rápidas que a luz) sejam informações sem transporte. Limitar o nosso ponto de vista a um universo local -na velocidade igual ou menor do que a luz- é um "chauvinismo eletromagnético", propôs Sarfatti. Informação sem transporte é informação sem energia e, no sentido comum, sem "sinais". O princípio da relatividade espacial dessa forma não é desafiado, mas meramente reduzido a uma definição de localidade e aplica-se somente a sinais e sistemas de energia. A informação pura pode tomar a forma de transmissões ERP, não limitada pelos sinais ou pela velocidade da luz.

Essa informação superluminosa (transmissões ERP), argumenta Sarfatti, pode dar suporte às Percepções Extra-Sensoriais (PES) interestelares revindicadas por autores recentes (inclusive eu mesmo), bem como as percepções comuns deste nosso planeta.

e/ou

A informação superluminosa também pode ser, como Sarfatti e Sirag propuseram em outros lugares, responsável pelo fenômeno incrível da sincronicidade; por exemplo, o meu holograma 23 do tempo-espaço. A sincronicidade, como é formulada por Jung e Pauli, simplesmente descreve o que acontece: coincidências se organizam em padrões aleatórios, mas significativos. A transferência da informação superluminosa ao nível quântico poderia explicar como isso acontece. Cada sistema subatômico no universo, ou nos multiversos, ajusta-se instantaneamente numa conformação com o todo, por meio de reação sinergética mais rápida que a luz. Aqui abordamos a "teoria Bootstrap" do Dr.Capra, que faz com que "todas as coisas sejam a causa de tudo", como no I Ching ou no Taoísmo¹.

Como esses modelos alternativos na vanguarda da Física, construímos uma série de explicações parciais dos dados estranhos que apresentei.

¹- Também dito pela lei máxima do Bela-Parrachianismo, segundo Bubleon Harashingá

Robert Anton Wilson, O Gatilho Cosmico, pg. 196-200.

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