quarta-feira, agosto 03, 2005

Compreensões Biblicas e Apocrifas;

É reconhecido há muito tempo, a compreensão da Igreja Católica de que, todo conhecimento sagrado e válido provém da Bíblia, não reconhecendo assim nenhuma possibilidade de mudança (claro que fatos históricos demonstram que não é bem assim). Falamos aqui de mudanças, sobretudo no dogma da igreja ortodoxa (bizantina), romana e também dos protestantes, os quais, apesar de suas mudanças de práticas continua o mesmo.

Temos já como obvio o poderio da igreja e, seus dogmas se constituem obviamente, para a manutenção deste poder e é justamente nesta tentativa espúria de manutenção da hierarquia e da ordem ortodoxa que, os próprios textos bíblicos foram tanto manipulados e como são até hoje interpretados a bel prazer, cometendo desta forma, erros espúrios e grotescos... são os velhos arcontes em ação... as autoridades ctônicas impedindo o ser humano de entrar em contato diretamente com suas forças imateriais e originárias.

O objetivo deste post é, trazer passagens bíblicas, interpolações apócrifas e analíticas de passagens que demonstrem o ineptia ridiculus que é tanto o dogma do santo igreja apostólica romana, quando a opinião orto doxa que quer nos mostrar uma falsa episteme como o já feito pelos senhores "donos da verdade".

Com o envio do paráclito após a crucificação de Cristo, não se pode mais falar que apenas Cristo é um Filho de Deus, mas, cada ser é apartir dai um deus; O paráclito é para o catolicismo, o espírito da verdade, o Espírito Santo, o qual foi dado a humanidade na própria mudança de Javé mediante o processo ocorrido em Jó. Em Salmo 82,6 lemos:

“pois bem, eu vos disse: Sois deuses; sois todos filhos do Altíssimo"

O paráclito é totalmente indesejável para a Igreja, pois leva na verdade o contato com Deus (Self) ao próprio indivíduo e não mais é necessária mediação da Igreja ou dos padres, todo ser passa a ser, apartir dai, sagrado. E esta idéia não é minha a bel prazer, logo após essa passagem de Salmo, lemos "A Escritura não pode ser anulada". Logo, apesar da escritura dever ser continuada pelos próprios indivíduos em contato com Deus não existe meio de negar a deusificação dos homens, esta idéia quebra a própria idéia de autoridade eclesiástica, pois somos todos encarnações do logos.

Segundo Jung : "A ação continua e direta do Espírito Santo sobre os homens convocados à condição de filhos de Deus é, de fato, uma encarnação que se realiza permanentemente. Enquanto filho gerado por Deus, Cristo é o primogênito ao qual se seguirá um grande número de irmãos nascidos depois dele. Mas estes irmãos não são gerados pelo Espírito Santo, nem nascidos de uma virgem. Isto talvez possa prejudicar seu caráter metafísico, mas o seu nascimento puramente humano não constituirá ameaça alguma para a sua expectativa de um lugar de honra na corte celeste, como também não reduzirá sua capacidade operativa no que respeito aos milagres. Sua origem inferior (da classe dos mamíferos) em nada impede que eles se situem numa relação de íntimo parentesco com Deus, enquanto Pai, e com Cristo, enquanto irmão..."

Ora, se cada ser pode operar milagres, ou, segundo alguns, magia, quem irá dizer se o que de fato aconteceu é milagre ou não, magia ou não, vem de deus ou do capeta? Obviamente o poder eclesiástico. Mas porque assim é, se todos temos o espírito santo?

Outro ponto em que eu gostaria de tocar é o pretenso machismo que se apóia em algumas vertentes católicas ou protestantes. Temos aqui que partir do principio que não existe apenas Deus e que, existe também uma Sapientia Dei, uma Deusa feminina ou pneuma coeterno a Deus. A esta que nos refirimos é Sofia a qual podemos encontrar nos Provérbios de Salomão, que data de 600 a 300 a.C, idade próxima ao livro de Jó, segundo alguns. Nos provérbios de Salomão lemos:

“O senhor me criou, como primícia de suas ações, como princípio de suas obras, antes dos tempos mais antigos. Desde a eternidade fui constituída, desde o começo, antes da origem do mundo. Quando ainda não havia os mares eu fui concebida, e ainda não existiam as fontes carregadas de água..................... Quando ele fixava os céus, eu estava lá,............................... quando assentava os fundamentos da terra, eu estava lá, como predileta a seu lado, era toda encantamento dia após dia, brincando todo o sempre na sua presença, brincando sobre o globo de sua terra, achando minhas delícias estar junto aos filhos dos homens”.

Outra fonte citada por Jung em resposta a Jó é Jesus, filho de Sirac (+-200aC) que escreve:

“Saí da boca do Altíssimo e como a névoa cobri a terra. Tive minha morada nas alturas, e meu trono estava sobre uma coluna de nuvens. Sozinha percorri o circulo do céu e passei nas profundezas das águas. Andei sobre as ondas do mar e sobre os fundamentos da terra. Exerci o meu império sobre todos os povos e nações......................... Antes de todos os séculos, desde o princípio ele me criou, e até a eternidade não cessarei de existir. Exerci o ministério diante dele, no santo tabernáculo, e foi assim que tive uma morada firme em Sião. Repousei na cidade que ele ama tanto quanto a mim, e em Jerusalém exerci o meu poder......"

Ai gostaríamos apenas de validar Sofia, mas para o presente objetivo de desmistificar a idéia machista propomos uma integração da própria Assumptio Mariae que foi excluída principalmente pelos protestantes. O dogma da Assumptio Mariae (assunção de Maria, rainha do céu) revela que ela se uniu ao Filho como esposa e à divindade como Sofia, na câmara nupcial do céu. Citamos agora o papa:

“Constitutio Apostólica”Munificentissimus Deus", em Acta Apostolicae Sedis. Commentarium Officiale, 1950, 21: Oportebat Sponsam, quam Pater desponsaverat, in thalamis coelestibus habitare" (convinha que a Esposa que o pai desposara habitasse os tálamos celestes).

Toquemos agora, no ponto essencial da lei e da consciência reflexiva, ou seja, saber o que se faz, talvez esta seja a lei máxima, ter consciência do que fez, do que sente, dos sentimentos que brotam do inconsciente, dos complexos que formamos ao longo da existência. Já dizia Cristo sobre o assunto: "Se sabes o que fazes, és feliz, mas se não sabes, és um maldito e transgressor da lei". Nesta própria frase podemos ver o paradoxo de Cristo, ou ao menos, o paradoxo da visão criada pela igreja do mito de Cristo, mas muito pelo contrário desta raiva ou sentimento de Cristo parecer prejudicial são passagens como esta que demonstram que a ausência do Summum Bonum, tanto em Cristo, como em Deus (ai deveríamos ver toda passagem de Jó e também, todos os fatos empíricos).

Continuando o assunto, agora com João Batista, temos extraída de um manuscrito Cóptico intitulado "Evangelho de Maria", apócrifo, desde 1896 no Museu de Berlim. Depois de haver explicado vários pontos de sua doutrina, ele se despede de seus discípulos:
"... Quando o abençoado havia dito isto, ele os saldou a todos, dizendo: ‘A paz seja convosco. Recebei minha paz para vós mesmos. Cuidai-vos de que nenhum vos desvie com as palavras ‘Olha ali’, ou ‘Olha lá’, pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o: aqueles que o buscam o encontrarão. Ide pois, e pregai a Boa Nova do Reino. Eu não vos deixo nenhuma regra, e eu não vos dei nenhuma lei, qual fez o legislador (Moisés) para evitar que vos sentísseis obrigados por ela.’ E quando acabou de dizer isto, ele foi embora." Gnosticism, An Anthology, ed. Robert M. Grant, Collins, London, pp. 65—66, "The Gospel of Mary").

Apenas nos falta aqui, decorrer sobre a pretenção dos conceitos usados pela teologia muitas vezes do summum bonum e do privatio boni. Ora, se Deus é o sumo bem, como se justifica toda passagem de Jó e todas as atrocidades práticadas por Javé? O próprio unilateralismo só pode gerar um elemento em lado oposto de igual intensidade como foi o caso de Cristo e o Anti-Cristo que aparece no apocalypse de João. Se consideramos Deus o sumo bem portanto não pode haver o complexio oppositorum (união dos opostos) do próprio Deus, resultando na falta de moral que vimos em Jó e acima de tudo numa negação do principio de individuação.

Chegariamos a tese do "omne bonum a Deo, omne malum ab homine"¹ o que não parece haver justificação no que cabe tanto ao antigo testamento tanto quanto as tentativas de situar Jesus no novo testamento como redentor dos pecados da humanidade, o filho de Deus que salvaria a humanidade do próprio Deus? Bem, seria mais facil então ele ter nos perdoado... ao invés de sacrificar seu filho (filius sapientae) para tal... se quiserem depois refletimos sobre isto, mas o ponto é que não se pode negar o terror de Deus, melhor será portanto, descrever nas próprias palavras Dele ao falar com Jó:

"Queres tu aniquilar minha justiça, condenar-me, para assegurares o teu direito? Tens um braço semelhante ao de Deus? Tens uma voz trovejante como a dele?" Jó 40,3s

o Ruah Eloim agora esta dentro de vós, sois deuses.... sois deuses...

¹- Todo bem vem de Deus, todo mal deriva do homem

Um comentário:

Morôni Azevedo de Vasconcellos" disse...

Muito Interessante o texto, gostei, já tinha visto algo superficial sob re os apócrifos eles realmente dão outra visão sobre a história, o que acho muito engraçado é a Igreja querer decidir quais textos são ou não útei tirando alguns livros da Bíblia e descartando os apócrifos...