quarta-feira, junho 28, 2006

Futebol, simbolismo e copa do mundo!


Mediante a copa do mundo em faze de realização, resolvi escrever um pequeno esboço sobre o simbolismo e alguns aspectos relacionados ao futebol. Ainda mais, por estarmos num país que ainda, andando por pernas tortas para descobrir sua identidade e cultura, louva a dança do futebol. Que possamos fazer essas pernas tortas dar dribles de Garrincha, e não cair no chão, é o meu desejo para nossa história.

Não acredito que possamos dizer simplesmente que o futebol é “bom” ou “ruim” para a sociedade na qual vivemos, tal como um título brasileiro na copa do mundo seria para o Brasil. Isso seria um reducionismo exacerbado e não nos faria questionar. Certamente, o que podemos dizer, é que o futebol faz parte da cultura brasileira e da nossa população, e que certamente há uma identificação profunda do heróico trabalhador brasileiro, que passa seus dias trabalhando para ganhar um salário mínimo com o heróico jogador da seleção com seus salários milionários.

O futebol certamente é um esporte que apresenta uma série de mitos e símbolos, e em especial numa cultura emotiva e “dionisíaca” como a brasileira um jogo pode chegar a tornar-se uma espécie de ritual. Começando a abordar estes mitos, é de destaque, sem duvidas, a presença do mito do herói nas partidas de futebol. Parece-me haver, ao menos, dois heróis fundamentais numa partida: o time como um todo, e algum herói escolhido pela coletividade, ou seja, pela torcida. A figura do herói é marcada pela passagem de desafios intensos em sua vida, como acontece com todos os heróis clássicos e para tal é exigido sacrifício, esforço, determinação e alcançar, ao menos, os limites do ser humano. Uma pergunta fica: “Qual seria hoje o herói individual da seleção brasileira?”. Parecia-me o Ronaldinho Gaúcho, mas hoje tenho minhas duvidas se esta projeção ainda é valida.. Outro exemplo interessante é o do Ronaldo que, quando estava jogando bem, era louvado como herói, mas bastou esta projeção arquetípica ser desfeita para transformar-se em vilão.. e, novamente, aos poucos, faz desgarrando-se da raiva do torcedor.

O mais interessante no futebol é seu aspecto instintivo, sua ligação com a corporalidade, em especial com a parte da metade inferior do corpo: “as pernas, o quadril, os pés” que sempre significaram a ligação com os instintos, tendo inclusive, devido sua proximidade, relações com os órgãos sexuais. Esta parte da corporalidade sempre foi reprimida pela cultura ocidental (eu diria, como Byington, que todo arquétipo matriarcal foi reprimido), que louva o racional, “as luzes iluministas”, e esqueceu-se do aspecto irracional humano, a espontaneidade, e também a energia à qual nos leva ao nosso si-mesmo. Um exemplo canhestro foi vivido por mim, ao escutar uma pessoa dizer sobre um torcedor vestido de índio: “que absurdo esses torcedores! Querem levar o pior de nossa cultura! Nosso lado animal!”. Não é sem causa que precisamos de um Nietzsche para tentar equilibrar e compensar nossa típica unilateralidade.

A partir daí começa-se uma série de ligações simbólicas com o feminino. A própria corporalidade, emoção exacerbada, espontaneidade são características da anima. Um grande numero de estádios, quase todos na verdade, possuem uma forma oval, próxima a um circulo, e muito similares as mandalas (ou círculos sagrados). Estes círculos, além de representarem a totalidade e a tentativa de reintegração da psique, eram usados para delimitar um espaço ritual e realmente parece que uma partida pode ser um ritual. A bola é mais um exemplo de circularidade presente no futebol, onde todos os jogadores disputam-na para serem os heróis da partida e garantirem a vitória de suas equipes.

Outro aspecto marcante é a semelhança do futebol e das torcidas com os antigos coliseu romanos, só que sem a matança deliberada. As regras do futebol, nesse sentido, parecem tentar estabelecer um dialogo através da punição entre os dois duelistas, lembrando uma guerra de titãs. O futebol, sobre esse viés, poderia ser então um melhor modo de lidar com nossa guerra, ao invés de sair matando todo mundo =P..

Talvez o futebol seja além de um modo de “acalmar” e “passivizar” o povo também uma expressão autentica onde a torcida faz também parte do espetáculo ritualístico e re-integra-se a uma consciência coletiva (ou egrégora) podendo servir de ponte a um desenvolvimento ou uma dissolução do inconsciente coletivo num afloramento emocional e perca da identidade, o que nos lembra muito aliás, os rituais dionisíacos, os ditirambos.

Po! Aqui tem muito pano pra manga... Certamente tem aspectos positivos e negativos num jogo de futebol ou numa copa do mundo... Por um lado existe até mesmo traços positivos na identificação com figuras heróicas o que leva a pessoa a tentar criar seu mito pessoal, mas por outro, na cultura capitalista, toda expressão autentica da alma humana é tragada pelos ditames do capital, e sacralidade corre sempre o risco de ser possuída por esse mito do Rei da Frigia, o Rei Midas que transformava tudo que tocava em ouro.. No inicio ficava muito feliz, mas não tardou a ver que aquilo transformara-se em uma maldição..

Midas e o ouro

Rei da Frígia, famoso por sua irreflexão; o único a saber que ele tinha orelhas de burro era seu barbeiro, a quem ele ameaçara de morte se o revelasse a alguém; não agüentando guardar o segredo, o barbeiro abriu um buraco no chão e gritou para dentro dele que o rei Midas tinha orelhas de burro; no lugar cresceram juncos que, agitados pelo vento, repetiam essa frase, logo ouvida por todos; segundo outra tradição, Midas pediu a Dionísio que lhe concedesse o dom de transformar em ouro tudo que tocasse; mas não pôde mais alimentar-se, pois toda a comida que tocava transformava-se em ouro; para se purificar, banhou-se nas águas do rio Pactolo, cujo fundo ficou coberto de pepitas de ouro.


Fechemos com a frase do Dada Maravilha: "O Gol é o Orgasmo do Futebol!".. salve ele! =)

base para o texto tirada daqui: http://cidadedofutebol.uol.com.br/site/vip/materias/vermaterias.aspx?idm=832

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